Aposentadoria: Barroso se vê como o mais afetado por sanções de Trump

Atualizado em 10 de outubro de 2025 às 15:01
Luís Roberto Barroso. Foto: Antonio Augusto/STF

O ministro Luís Roberto Barroso, que anunciou sua aposentadoria antecipada do Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta (9), confidenciou a interlocutores que se considera o magistrado mais afetado pelas sanções impostas pelo governo de Donald Trump, segundo a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo. As medidas foram uma retaliação às decisões da Corte envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

As sanções resultaram na suspensão de vistos e bloqueios financeiros de ministros brasileiros. Em julho, Barroso teve o visto dos Estados Unidos suspenso junto com outros sete ministros da Corte: Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino.

Moraes foi o único alvo de sanções financeiras diretas sob a chamada Lei Magnitsky, instrumento usado pelos EUA para punir autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos ou promover corrupção. Apesar de negar publicamente que as sanções tenham influenciado sua saída, Barroso fez menção aos impactos pessoais da função em seu discurso de despedida.

“Como todos nós sabemos, os sacrifícios e os ônus da nossa função acabam se transferindo para nossos familiares e pessoas queridas que sequer têm qualquer responsabilidade pela nossa atuação”, disse o ministro, com a voz embargada.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Carlos Barria/Reuters

Entre os ministros atingidos, Barroso era o que mantinha vínculos mais estreitos com os Estados Unidos. Ele viajava com frequência para ministrar aulas em universidades americanas e mantinha um apartamento avaliado em US$ 4,1 milhões (cerca de R$ 22 milhões) em Miami.

O magistrado também era ligado ao meio acadêmico americano. Ele foi senior fellow da Escola de Governo John F. Kennedy, em Harvard, e cursou mestrado e pós-doutorado nos EUA. “O filho teve que abandonar casa e emprego em Miami. Barroso não pode mais dar aulas em Harvard. Toda a vida deles era americana”, disse um interlocutor próximo ao ministro, destacando o peso emocional das sanções.

Mesmo assim, Barroso insistiu que sua decisão foi planejada há anos. “Essa é a última sessão plenária de que participo. Decisão longamente amadurecida que nada tem a ver com qualquer fato da conjuntura atual. Há cerca de dois anos comuniquei ao presidente da República essa intenção”, afirmou.

Questionado pela imprensa sobre se as retaliações da Casa Branca influenciaram o anúncio, o ministro respondeu: “Nem sim nem não, porque eu acho que não faz nenhuma diferença eu estar aqui ou não”. Ao final, fez um aceno ao colega Alexandre de Moraes e à esposa dele, Viviane Barci de Moraes, que também foi incluída nas sanções americanas.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.