Apóstolo do confronto, Alckmin transformou sua PM numa máquina de tirar sangue. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 14 de janeiro de 2016 às 21:13
A estratégia de Alckmin para lidar com manifestantes
A estratégia de Alckmin para lidar com manifestantes

 

“Não serão mais permitidos bagunça, vandalismo e crimes. Os manifestantes precisam cumprir a Constituição e avisar previamente. Caso contrário, será a SSP quem definirá o trajeto, para poder transferir linhas de ônibus, retirar o lixo das ruas e garantir que não haja depredação”.

Eis o secretário de Segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes, dando uma amostra do quão preparado está o governo paulista para lidar com protestos que não sejam combinados com malucos que pregam a intervenção militar e tiram selfies com soldados e pastores alemães.

Para Moraes, a pancadaria policial em cima dos manifestantes do MPL só “recebeu elogios da população” e Alckmin considerou “ótima a alteração da estratégia” para conter os “vândalos”.

“Foi absolutamente necessário o uso das bombas de gás no momento em que os manifestantes e black blocs tentaram romper com violência o cordão de isolamento da polícia”, disse.

Como durante os atos dos estudantes que ocuparam as escolas, cenas de terror se repetiram pelas ruas e avenidas. Um flagrante foi forjado e filmado pelos Jornalistas Livres. Quantos outros passaram em branco?

Mais uma vez, a questão está sendo resolvida através da ação de homens especializados em inspirar o medo.

Geraldo Alckmin, eu já escrevi, substitui autoridade por poder. O sociólogo americano Robert Nisbet fez uma distinção entre os dois conceitos. “A autoridade pressupõe relacionamento, lealdade e é baseada, em última análise, no consentimento de quem está sob ela”, escreveu.

“O poder, por outro lado, é externo e baseado na força. Existe onde as alianças se enfraqueceram ou nunca nasceram. O poder surge quando a autoridade desaparece”.

Alckmin não tem autoridade. Policiais militares não são professores, psicólogos, terapeutas de casais ou conselheiros familiares. São pagos para cumprir ordens e sobem na carreira ou caem em desgraça por causa disso.

Como diz o velho adágio, para quem só anda com martelo, qualquer coisa é um prego. É a pedagogia da borrachada de Geraldo Alckmin. É nele que moram a dificuldade em dialogar, o autoritarismo, a incompetência e a facilidade de apelar para a solução mágica da porrada.

Dentre os feridos dos últimos dias, estão nove jornalistas. Um deles é o fotógrafo do site da Vice, Felipe Larozza. De acordo com a Abraji, Larozza, foi agredido a golpes de cassetete após registrar o atropelamento de um homem por dois PMs — que ainda prenderam o cidadão.

Isso não é filme ruim de Tarantino. Isso é Geraldo, é seu secretário de Segurança, é sua polícia militar — e isso, segundo todos eles, é uma estratégia.