Aras defende Salles por vaga no STF. Por Fernando Brito

Atualizado em 26 de maio de 2021 às 23:21
Augusto Aras e seu amigo Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Migalhas

Publicado originalmente no Blog do Autor:

É fácil de entender que a teimosia do Procurador Geral da República, Augusto Aras, em tentar bloquear o inquérito que apura o envolvimento do ainda ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem toda a relação com um lance final por sua indicação para a vaga que se abrirá com a aposentadoria compulsória do Ministro Marco Aurélio Mello.

O objetivo, claro, é retardar a investigação, até porque a transferência da relatoria de Alexandre de Moraes para Cármem Lúcia nenhum tipo de benefício traria para o ministro antiambiental.

Ricardo Salles, na prática, já é o ex-ministro do Meio Ambiente.

Sua presença no cargo expôs ainda mais as fragilidades de Jair Bolsonaro: no exterior (ainda mais pelo fato de que o caso policial nasceu de uma comunicação do governo dos EUA) e no plano interno, como ficou claríssimo na reclamação do vice-presidente da República, Hamílton Mourão, sobre a ausência do Ministério do Meio Ambiente na reunião do Conselho da Amazônia.

Salles está praticamente clandestino, sem ter o que falar ou fazer, sem ninguém mais que obedeça – até por prudência – suas ordens no MMA, no Ibama ou no ICM-Bio.

Teve a defesa solitária de Bolsonaro no dia seguinte à operação policial, quando o chamou de ” um excepcional ministro” e culpou os “xiitas ambientais” do Ministério Público por sua encrenca contrabandista.

Mas está em péssima posição entre os demais ministros, entre os militares e no próprio Supremo, onde Aras não deve conseguir sucesso.

Salles, além de tudo, tem a confissão – espontânea e gravada – de que usaria a pandemia para distrair as atenções e “passar a boiada” pela porteira do “parecer-caneta” dos atos de liberação aos agentes da devastação.

Bolsonaro tem feito a si mesmo de surdo e perdeu a chance de degolar Salles logo após as medidas de busca e apreensão ordenadas pelo STF. Poderia ter alegado surpresa; já não o pode mais.

Pior, ninguém ficará surpreso se a teia dos negócios de Salles alcançar outros integrantes do governo e, até, da família presidencial.

Fogo, quando começa a arder, é difícil de apagar. A incineração de Salles vai atingir muitas áreas vizinhas ao presidente antes que se consiga apagá-la