Arcebispo que renunciou por acobertar pedofilia e estupros do clero recebe título de cidadão cearense

Atualizado em 13 de julho de 2019 às 14:15
Dom Aldo Pagotto recebe o título de cidadão cearense

O arcebispo emérito da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto, foi agraciado com o título de cidadão cearense numa solenidade ocorrida em junho.

Ele comandou a Arquidiocese até 2016, quando renunciou a “pedido” do Papa Francisco acusado de acobertar casos de pedofilia do clero local.

A autora da proposta, a deputada Fernanda Pessoa (PSDB), enfileirou-lhe elogios.

“Um cristão que sempre confiou na misericórdia das pessoas e sempre acolheu e buscou dar novas chances de renúncia”, discursou.

“Sempre foi e continua com a sua missão de acolher não somente como líder religioso, mas também pela sua participação e influência nos debates e na defesa de questões e projetos que levem benefícios para a população”.

Pagotto agradeceu os “gestos simples e sinceros” dos cearenses. Prometeu “honrar mais e melhor o nosso querido povo”. Ele está com câncer.

Natural de Santa Bárbara D’Oeste, interior de São Paulo, ele foi ordenado bispo em outubro de 1997 por Dom Cláudio Hummes, então arcebispo de Fortaleza.

Em 2000, foi eleito dirigente da CNBB.

Foi também presidente da Comissão Episcopal Serviço, Caridade, Justiça e Paz e do Conselho Diretor da Pastoral da Criança.

Ele mesmo foi alvo de denúncias num caso investigado pelo Ministério Público.

Numa carta enviada ao Vaticano, uma mulher relatou que Dom Aldo mantinha relação com um rapaz de 18 anos e permitia e encobria abusos de padres a crianças e adolescentes.

Num depoimento, um ex-seminarista contou que Pagotto mandou que ele “deixasse de besteira e que vocação seria irrelevante para um jovem bonito e apreciado como o depoente, acariciando os seus órgãos sexuais”.

“O arcebispo disse então ao depoente: ‘vamos fazer o ato! Só tem nós dois aqui e ninguém vai nos incomodar’, fazendo gestos obscenos com seu órgão sexual”.

Cidadão de bem, militou contra beijo gay em novela, fez campanha aberta contra Dilma e contra a legalização do abortoproibiu padres de se candidatar e de apoiar o MST e movimentos sociais.

Em 2010, gravou um vídeo lendo uma carta denunciando Lula, Dilma e o PT por atentarem contra “as concepções básicas do cristianismo”.

Usou um bordão que seria repisado pelo bolsonarismo: “A verdade nos libertará”.

Saiu às ruas fantasiado com as cores da bandeira pelo impeachment de Dilma.

Deus tenha piedade de Dom Aldo.