Argentinos votam para escolher entre o antiperonismo e o “não” ao fascismo de Milei

Atualizado em 19 de novembro de 2023 às 7:18
Vencedor do 2° turno eleitoral governará o país por quatro anos. Foto: Reprodução

 

Depois de cinco meses de campanha, realinhamentos partidários, candidatos que ficaram para trás e, finalmente, uma reconfiguração quase total do mapa político – com alianças inimagináveis até algumas semanas atrás -, Sergio Massa e Javier Milei enfrentam a batalha final pela presidência da Argentina.

É o segundo turno desejado por ambos os candidatos, pelo qual trabalharam desde o início da campanha, escolhendo-se mutuamente para polarizar e construir suas candidaturas em oposição à figura do outro: a ameaça neo-fascista e psiquiátrica, para um deles, e a casta corrupta e enraizada no poder, para o outro.

O tabuleiro político, empresarial, sindical e midiático foi se reorganizando em torno de cada candidato, e até o momento, se há algo em que ambos os campos concordam: além da existência de um intransponível percentual de 10 a 12% de votos brancos e indecisos, é que, aconteça o que acontecer em 19 de novembro, a Argentina iniciará uma nova fase.

Mais de 35 milhões de argentinos estão aptos a votar neste domingo, escolhendo entre a chapa Sergio Massa e Agustín Rossi ou Javier Milei e Victoria Villarruel.

Embora as últimas pesquisas concedam uma leve vantagem à chapa do candidato da extrema-direita, as equipes de ambos os candidatos concordam que estão diante de um cenário de empate técnico.

Milei chega ao domingo mais eufórico, revigorado por sua aliança com o macrismo – que determinou o tom e a cor da campanha e de seu futuro gabinete, além de fornecer novos votos, financiamento e estrutura para a fiscalização – e convencido de que está a um passo da vitória.

Massa, por outro lado, mostra um otimismo mais moderado, satisfeito com o caminho percorrido e confiante no apoio da estrutura peronista em todo o território nacional.

A contagem regressiva também traz uma mancha: o espectro da fraude que os seguidores libertários agitam há dias.

Nos últimos dias, o grupo de Milei teve que recuar por falta de provas em sua denúncia contra a lisura do pleito, mas o peronismo está em estado de alerta: teme que o processo eleitoral seja manchado, tal como ocorreu nos Estados Unidos e no Brasil, e que um clima tenso se instale durante o dia, especialmente após a decisão de Milei de não enviar a quantidade obrigatória de cédulas à Câmara Nacional Eleitoral.

Milei já descreveu Lula como “corrupto e comunista” e indicou que se recusaria a encontrar o petista. Foto: Reprodução

Massa, o candidato improvável

O ministro-candidato da União pela Pátria assumiu a campanha de forma cuidadosa e sem sobressaltos. Nisso, todos os espectros do peronismo concordam. Os mais otimistas identificam esse fenômeno como um “milagre”, considerando o contexto de 140% de inflação.

Os mais pessimistas temem que o antiperonismo – ativado com ferocidade por Mauricio Macri desde que interveio na campanha e o desgaste dos últimos oito anos acabem pesando mais.

A eleição será decidida se prevalecer o ‘Não’ a Milei ou se pesará mais o antiperonismo”, resume, exausto, um dos dirigentes nacionais mais ativos na campanha.

Sergio Massa traçou uma estratégia para a campanha e a seguiu à risca. A primeira etapa foi consolidar o voto kirchnerista – mesmo na disputa interna contra Juan Grabois – e fortalecer a candidatura de unidade após anos de internismo furioso no Frente de Todos. Cristina Fernández de Kirchner, que vinha sendo alvo de clamores por sua candidatura, convenceu a tropa de que Massa era a melhor opção e participou ativamente da campanha.

Após as primárias, no entanto, começou uma segunda fase com maior protagonismo de Massa, e tanto a vice quanto Alberto Fernández deram um passo para trás, quase desaparecendo da cena pública. Nessa segunda fase, o tigrense começou a polarizar com Milei e a comparar a (relativa) paz interna alcançada pelo Frente de Todos com a guerra desencadeada dentro do Juntos por el Cambio após a vitória de Patricia Bullrich.

Após as eleições gerais, com as duas ofertas claramente estabelecidas, começou a etapa do “governo de unidade nacional”.

Massa convocou todos os atores políticos a formar uma frente comum contra a ameaça libertária: prometeu uma coalizão de governo ampla e heterogênea, com a presença dos “melhores” de cada partido de oposição em cargos de tomada de decisão (da Oficina Anticorrupção ao diretor do Banco Central e ao gabinete nacional).

Ele se apropriou de uma de suas principais fraquezas, em especial as críticas por ser “volúvel” ou “traidor”, para construir o imaginário de seu futuro governo, enfatizando a necessidade de diálogo e de superar “a divisão”.

A verdadeira estratégia, a única que os correligionários de Massa percebiam que poderia mobilizar as pessoas a irem às urnas para votar em Massa, era, no entanto, a do medo de Milei.

Tráfico de órgãos, privatização da educação, compra e venda de crianças, venda livre de armas: esses foram os eixos que o peronismo tentou explorar até o último momento. Isso e o perigo representado por sua instabilidade emocional ou sua incapacidade de manter a governabilidade de um futuro governo (com seus escassos apoios no Congresso e sua pouca experiência na gestão da coisa pública).

Agora chegou finalmente o dia, e o panorama é de uma incerteza absoluta. “Um dia eu acordo pensando que vamos ganhar, e no outro estou convencido de que vamos perder”: a frase de um dirigente peronista resume o clima que predomina nas fileiras da União pela Pátria há mais de 72 horas. Com informações do Página 12.

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