De mim para Arnaldo Baptista

Atualizado em 21 de junho de 2013 às 12:19
O fã ao lado do maior gênio do rock brasileiro

Recebo uma mensagem de Arnaldo Baptista que me traz sentimentos variados.

Alegria, sobretudo, porque vejo que seu projeto de disco novo está bem adiantado. Toda obra de um gênio como Arnaldo deve ser saudada com aplausos de pé. Não apenas vou comprar o disco para mim. Vou dar exemplares de presentes a pessoas de que gosto.

Chateação, em menor escala. Porque Arnaldo parece ter sido contaminado em relação a mim pela opinião ressentidamente feroz de sua mulher, Lúcia. Ele me chama de “falso e oportunista”, não sei direito por quê, para ser sincero.

Fui a Juiz de Fora entrevistar Arnaldo, no fim do ano passado, para um perfil que será publicado na revista Alfa. Quando um jornalista vê um ídolo de infância ele parece deixar por alguns instantes de ser jornalista para virar um fã, idiota como todos os fãs. Aconteceu comigo quando me vi cara a cara com Paul McCartney. Fiz questão de, antes de tudo, agradecer a ele por tantos bons momentos que me proporcionou.

E aconteceu comigo quando topei com Arnaldo em Juiz de Fora.

Tocamos juntos, num improviso punk, Something. Jamais esquecerei esse dueto. E conversamos longamente. Gostei de ver o sorriso constante de Arnaldo. Gostei de seu olhar feliz para o passado com os Mutantes e com Rita Lee. Gostei de seus projetos de músico e de pintor.

Não gostei tanto assim da atitude de Lúcia, sua mulher. Sempre vigiando, sempre controlando Arnaldo como se ele precisasse disso. E com uma amargura extraordinária. É como se, fora ela, ninguém fosse bom com Arnaldo. Nem o irmão dele, Sérgio Dias, escapa de críticas obsessivas dela. Interessante que o próprio Arnaldo fala com carinho de seu irmão mais novo.

Mas nada seria um problema muito grande se não fosse a entrada em cena desastrada da assessora de imprensa de Arnaldo. Em trinta anos de carreira, nunca tinha visto uma ação tão canhestra, tão deletéria de alguém que teoricamente deveria facilitar as coisas entre o entrevistado e o entrevistador.

A assessora de imprensa envenenou a situação. Só posso atribuir sua atitude destruidora a um surto porque, no plano da razão, não há explicações convincentes.

Ela só não conseguiu diminuir a enorme admiração, a exuberante gratidão que sinto por Arnaldo, para mim, de longe, o maior talento da história do rock brasileiro. Não sei quantas vezes ouvi, da primeira à última faixa, Loki, sua obra magna. Termino este texto ouvindo minha música predileta de Loki, “Será que eu vou virar bolor?”, uma comovente viagem de Arnaldo em busca de seu passado.

Queria que minhas palavras fossem lidas ao som dessa canção — para cuja pergunta a resposta é simples: Arnaldo Baptista, o grande Arnaldo, jamais vai virar bolor.

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