
A manicure Beatriz Nolasco, moradora do Complexo do Alemão há 15 anos, afirmou que seu sobrinho, Yago Ravel Rodrigues, de 19 anos, foi decapitado durante a megaoperação policial que deixou 119 mortos nos Complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro.
Segundo o relato, a cabeça do jovem teria sido deixada em uma árvore na mata onde ocorreram os confrontos. “Meu sobrinho não tinha tiro no corpo. Apenas arrancaram a cabeça dele e deixaram na mata”, disse em entrevista ao UOL.
Beatriz contou que Yago trabalhava como mototaxista e não tinha antecedentes criminais. A família, segundo ela, descobriu a morte por meio de vídeos que circulam nas redes sociais, mostrando moradores recolhendo corpos com lençóis e sacos plásticos.
“Um homem pegou a cabeça dele e colocou em um saco. Foi assim que eu soube onde estava o corpo”, relatou. A informação ainda não foi confirmada oficialmente pela Polícia Civil, responsável pela perícia dos corpos.
Segundo testemunhas, moradores tentaram ajudar pessoas feridas na mata, mas foram impedidos por policiais. “A polícia entrou no Alemão para fazer uma chacina. Tinha gente viva, pedindo socorro”, afirmou Beatriz. O governo confirmou que a operação, batizada de Operação Contenção, deixou 119 mortos, sendo quatro policiais e 115 suspeitos.
Desde a manhã desta quarta-feira (29), dezenas de famílias se concentram na sede do Detran, ao lado do Instituto Médico Legal (IML), para tentar reconhecer os corpos. O clima é de desespero. A Defensoria Pública montou uma estrutura emergencial para acompanhar o processo de identificação e dar suporte jurídico e psicológico aos parentes das vítimas.
Entre os que ainda aguardam notícias está Aline Alves da Silva, que procura o irmão, Alessandro. Ela e a família estão há horas em busca de informações. A Polícia Civil não divulgou previsão para o término dos trabalhos de perícia. Testemunhas afirmam que muitos corpos apresentam tiros na nuca e marcas de facadas.
O governo do Rio classificou a operação como um sucesso contra o Comando Vermelho. Segundo a Secretaria de Segurança, 113 pessoas foram presas e 10 adolescentes apreendidos. Foram recolhidos mais de 90 fuzis, toneladas de drogas e rádios comunicadores. A Polícia Civil afirma que criminosos usaram drones armados e reagiram aos agentes.
Pesquisadores e especialistas em segurança pública, no entanto, classificaram a ação como um massacre. “É algo completamente sem precedentes, talvez a operação mais irresponsável da história do Rio”, afirmou Pablo Nunes, diretor do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec).
A professora Jacqueline Muniz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), também criticou o planejamento da operação. Segundo ela, mobilizar 2.500 agentes para uma única área deixou grande parte da cidade descoberta. “Não houve integração com outros órgãos, nem uma central de crise. Foi uma operação isolada e sem coordenação”, avaliou.

