Arsenal do CV tinha fuzis desviados dos exércitos da Venezuela, Argentina, Peru e Brasil

Atualizado em 31 de outubro de 2025 às 11:20
Fuzis apreendidos em megaoperação feita nos complexos da Penha e do Alemão na última terça-feira (28). Foto: Leslie Leitão/TV Globo

O arsenal de 91 fuzis do Comando Vermelho (CV), apreendido na megaoperação policial realizada na última terça-feira (28) nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, revelou a presença de armamentos que pertenceram às Forças Armadas da Venezuela, Argentina, Peru e do próprio Brasil.

Segundo a Polícia Civil, as insígnias e os detalhes gravados nos fuzis estão ajudando a dimensionar o poder de fogo das facções e a identificar as rotas de entrada das armas no Brasil. O material será submetido a perícia para rastreamento e eventual incorporação ao arsenal das forças de segurança.

“Chamou nossa atenção, embora não seja algo inédito, a presença de fuzis de forças armadas não só do Brasil, como de outros países da América do Sul”, afirmou ao G1 o delegado Vinicius Domingos, da Coordenadoria de Fiscalização de Armas e Explosivos.

A polícia identificou inscrições nos fuzis com siglas de facções, apelidos de criminosos e referências a outros estados, como “baiano” e “Tropa do Lampião”, o que indica alianças entre o Comando Vermelho e quadrilhas de diferentes regiões.

Um dos armamentos fazia referência ao “bonde do Panda”, ligado ao Complexo do Alemão, e outro trazia o número 157, artigo do Código Penal que tipifica o crime de roubo.

Em um dos itens, havia uma bandoleira com identificação do Complexo do Alemão e a marca da facção Família do Norte, de Manaus, reforçando o elo entre criminosos cariocas e grupos do Norte e Nordeste.

Calibres e origem das armas

Os fuzis apreendidos eram, em sua maioria, dos calibres 5.56 e 7.62, com fabricação europeia. A polícia acredita que grande parte das armas chega ao Brasil via Paraguai, principal rota de contrabando de armamentos da América do Sul.

O delegado explicou que um fuzil G3, de fabricação alemã, pode disparar até 10 tiros por segundo e comparou o cenário carioca ao de países dominados por cartéis. “Não temos conhecimento, com exceção da Colômbia e do México, de países onde criminosos narcoterroristas utilizam ostensivamente esse arsenal de guerra para manter domínio territorial”, afirmou.

De acordo com os investigadores, há uma nova tendência no tráfico de armas, com quadrilhas trazendo apenas peças essenciais pelo Paraguai e completando o armamento com componentes comprados legalmente pela internet, adaptados de forma artesanal.

Aumento recorde de apreensões no Rio

Os fuzis apreendidos na operação somam-se ao recorde histórico de apreensões no estado. Entre janeiro e setembro deste ano, foram 593 fuzis retirados de circulação, o maior número desde o início da série do Instituto de Segurança Pública, em 2007.

No mesmo período, o Brasil registrou 1.471 apreensões, sendo 40% concentradas no Rio de Janeiro. Na prática, de cada cinco fuzis apreendidos no país, dois estão no território fluminense.

Há também investigações sobre fábricas clandestinas que produzem armas destinadas a facções cariocas. Há duas semanas, a Polícia Federal prendeu integrantes de uma quadrilha que fabricava cerca de 3.500 fuzis por ano para grupos do Complexo do Alemão e da Rocinha.