“Arte degenerada”: eliminação de livros da Fundação Palmares é obra de ex-assessor de Alvim, demitido por imitar Goebbels

Atualizado em 15 de junho de 2021 às 19:31
Marco Frenette com o chefe Sérgio Camargo na Fundação Palmares

Servidores da Fundação Palmares estão eliminando livros.

A justificativa é que grande parte do acervo não está relacionada à temática negra – dos atuais 9 565 títulos, apenas 46% estariam de acordo com a missão institucional da casa.

Os volumes “doados”, não se sabe para quem, versam sobre socialismo e comunismo, o bicho papão para o chefão Sérgio Camargo.

Mas há também John Kenneth Galbraith, Gógol, Tolstói, Simone de Beauvoir, Durkheim, Raymond Aron, Nelson Werneck Sodré, Celso Furtado, Ruy Fausto, Jacob Gorender, Caio Prado Jr, entre outros.

Nem Marco Antônio Villa foi poupado.

“Nosso Regimento Interno, em seu primeiro capítulo, define muito claramente que a Palmares tem por finalidade ‘promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira’, e também ‘deve promover e apoiar a integração cultural, social, econômica e política dos afrodescendentes no contexto social do País’”, diz Marco Frenette, responsável pelo expurgo.

Frenette, coordenador-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra, é ex-assessor de Roberto Alvim, demitido da Secretaria Especial da Cultura após imitar Joseph Goebbels num discurso.

Foi chefe de comunicação de Alvim e o defendeu até o fim. Chamou o episódio do teatro nazista de “infelicidade” e a demissão  fruto da “vagabundagem esquerdista”.

Assim como o ministro da Propaganda de Hitler havia afirmado que a “arte alemã da próxima década será heroica” e “imperativa”, Alvim declarou que a “arte brasileira da próxima década será heroica” e “imperativa”.

“A frase infeliz, aquela que guarda semelhanças com a de Goebbels, veio de pesquisas sobre nacionalismos, e, sem saber a origem espúria da frase, a inseriu no seu texto”, garantiu Frenette.

Em 1937, Goebbels mandou vasculhar todos os museus da Alemanha em busca de “arte degenerada” (“Entartete Kunst”).

Tudo o que era classificado como arte moderna, “judaica” e “comunista” podia ser confiscado.

As obras foram exibidas na galeria do parque Hofgarten, em Munique, numa mostra organizada por Adolf Ziegler, presidente da Câmara de Artes Plásticas do Terceiro Reich. 

“Nenhum quadro será poupado”, anotou Goebbels em seu diário em 1938.

Um ano mais tarde, mais de 5 mil trabalhos foram queimados na Alte Feuerwache, então sede do Corpo de Bombeiros em Berlim.

Mais uma “infelicidade”, claro.

Frenette mostra os livros “degenerados” eliminados do acervo
Hitler e Goebbels na mostra de “arte degenerada” em 1938