Publicado no Medium.
POR MARIA DOMINGUEZ
Não é novidade que as redes sociais digitais configuram hoje ambientes essenciais para a discussão e troca de argumentos públicos, e sobretudo, políticos. Nesses ambientes digitais, ideias e fatos são, a cada instante, compartilhados, discutidos e ressignificados, e com muita rapidez, podem ganhar ou perder adeptos e visibilidade pública.
Pensando nisso, e, considerando o meu interesse de pesquisa em Internet & Política, decidi escrever um artigo sobre a disseminação de notícias falsas no Facebook. Fiz um esforço para aplicar um questionário para indivíduos com diversos posicionamentos políticos, pois essa é uma possível variável moderadora do efeito que pretendo testar no meu estudo.
Fui atrás, então, de grupos fechados no Facebook voltados para a discussão de temas relacionados à política brasileira. Busquei esses grupos a partir de palavras-chave que evidenciam as discussões políticas recentes mais evidentes: Lula, Bolsonaro, Sérgio Moro, Temer, Lava Jato, etc. A ideia inicial era solicitar a entrada nos grupos mais populares associados a cada um desses vocábulos. Emplaquei em Bolsonaro. Encontrei um total de 100 grupos fechados (no dia 12/09/2017) de apoio a Jair Bolsonaro.
Acredito que esses grupos fechados sejam ambientes propícios para a construção e fortalecimento de uma rede que hoje, no Brasil, infesta o debate político com argumentos antidemocráticos, antirrepublicanos, enfim, antiliberais. Temos o exemplo do Pegida, grupo político alemão abertamente xenófobo e islamofóbico, que hoje consegue levar centenas de milhares de pessoas às ruas em protestos antiimigração. O grupo começou suas primeiras articulações em um grupo fechado no Facebook com poucos participantes (Stier et al, 2017). Sendo assim, digamos que cada família brasileira conte com uma pessoa que secretamente apoie Bolsonaro.
Certamente, essa pessoa não encontrará espaço para expressar suas opiniões em um almoço de família ou em um encontro de amigos do colégio. Sabemos que pessoas que detém opiniões minoritárias tendem ao silenciamento diante de ambientes hostis à sua opinião.
Agora digamos que cada potencial eleitor de Bolsonaro, que seguiam carreira solo em suas convicções, consigam se articular com outros like-minded espalhados pelo Brasil, para, enfim, trocar argumentos e fortalecer suas escolhas, até então, secretas. Assim, os jogadores solitários começam a formar seus times para o combate.
Pensando nisso, passei uma semana, entre os dias 12 e 19 deste mês, frequentando os seis grupos fechados mais populares no Facebook relacionados a “Bolsonaro”, que são:
Apoiadores de Jair Bolsonaro (308.224 membros)
GACB — Grupo de Apoio à Candidatura de Jair Bolsonaro (295.017 membros)
Grupo de apoio à candidatura de Jair Bolsonaro (161.048)
Bolsonaro 2018 — MEMES — Começou a opressão e a panelinha da direita(140.350 membros)
Jair Bolsonaro — O Mito (133.671)
Jair Bolsonaro Presidente — Direita 2018 (126.814 membros)
Esses grupos parecem formar ambientes semi-privados, que, por um lado, aglomeram milhares de participantes, mas, por outro, são alimentados por uma espécie de libertinagem iliberal. Aqui, convicções antidemocráticas são livremente expressadas e apoiadas.
Afinal, nesses ambientes, os participantes:
(PS: Fica, Pablo Vittar ❤)
Há pelo menos uma década, pesquisadores e pesquisadoras da Comunicação e Ciência Política se dedicam à compreensão de movimentos e discussões políticas em redes sociais digitais. Além disso, jornalistas pautam e são pautados diariamente por temas que ganham atenção e são repercutidos, principalmente, no Facebook e no Twitter.
Enquanto as discussões no Twitter são sempre abertas e não são passíveis de moderação, o Facebook conta com recursos que permitem articulações mais privadas, como os grupos fechados e até os secretos. Os grupos fechados do Facebook permanecem pouco explorados por pesquisadores/as e jornalistas, que direcionam sua atenção para posts que recebem grande atenção pública (likes, comentários e compartilhamentos), assim como hashtags e análises de rede que evidenciam os hubs e clusters da discussão pública digital.
Ainda é impossível saber com precisão qual a influência desses grupos para o resultado eleitoral de 2018. Por outro lado, desde já, desses ambientes parece surgir uma articulação necessária para o florescimento do discurso iliberal que já circunda a internet brasileira.
OBS: Felizmente, parece que não me adequei muito a esses grupos:
Referência: Sebastian Stier , Lisa Posch, Arnim Bleier & Markus Strohmaier (2017): When populists become popular: comparing Facebook use by the right-wing movement Pegida and German political parties, Information, Communication & Society.
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