“Memórias de uma advogada”: o DCM começa a publicar um folhetim. Por ANÔNIMA

Atualizado em 2 de outubro de 2015 às 6:19
Poe Milo Manara
Poe Milo Manara

A partir de hoje, ANÔNIMA escreve um folhetim para o DCM. ANÔNIMA é advogada e escritora, uma colunista de  sucesso na internet brasileira. Está próxima dos 30 anos. A intenção é publicar um novo capítulo a cada semana. Os textos não são recomendáveis para menores de 18 anos.

Capítulo 1: Duas amigas

 

Éramos amigas. Eu sempre preferi amigas como ela: menos fotos no espelho e declarações baratas e mais fumaça, gargalhadas e maledicências.

Nosso assunto preferido eram os paus alheios. Ela, particularmente, conhecia mais do que eu. E os que a gente não conhecia viravam o centro da nossa especulação barata. Falávamos do tamanho, do diâmetro, da potência (ou falta de). Eu me sentia privilegiada por falar de paus em vez de sapatos.

O álcool sempre nos deixava a vontade – não que não pudéssemos falar dos paus alheios quando sóbrias, mas fazê-lo depois de uns bons drinks era infinitamente mais divertido.

Ela tem o tipo de naturalidade que te prende o olhar por horas, juro. Uma cintura marcada seguida de uns pneuzinhos que – pela quantidade de cerveja que ingere – ela não poderia deixar de ter. As pernas separadas, finas e bem torneadas, o joelho ossudo e charmoso, e o olhar. Ah, o olhar! Apesar disso, eu nunca cultivei – ao menos não conscientemente – um tesão genuíno por ela. Era, afinal, apenas a amiga com quem eu podia falar de paus sem ser surpreendida por olhares de espanto e hipocrisia.

Mas naquele dia o vinho estava mais forte. O chá era dos bons, o incenso, o blues, a meia luz.. Naquele dia falamos dos melhores paus. E descobrimos um assunto melhor, depois.

– Você já ficou com a Ana, né?

– Já, uma vez. O pau dela é dos grandes. – referia-se, provavelmente, à qualidade sexual da moça. Caímos na gargalhada pela centésima vez.

– E você, Nath? Já ficou com uma mulher?

– Fiquei, mas não cheguei a ver o pau. Era moça de família. – A coerência do nosso papo era proporcional ao teor de álcool e de erva.

– Cê curtiu?

–  Pra caralho.

Ela chegou mais perto. Era menos agressivo que o “chegar mais perto” de um homem. Era despido de necessidade de auto-afirmação e transbordava a mais pura curiosidade e vontade. A língua era quente e o beijo era calmo, sem pressa; era o beijo o personagem principal. Não era figurante de uma transa posterior, quando tantas vezes acontecera comigo. O percorrer daquelas mãos no meu corpo tinha a mesma naturalidade da cintura dela. Os seios, pequenos, cabiam na palma da mão. A gente transpirava álcool e um desejo que não podia mais esperar. O beijo calmo foi incorporando um tesão avassalador – só tesão, não pressa – e as mãos ficaram mais ligeiras, espertas, eficientes. As quatro. As preliminares duraram o tempo necessário. Descobri aqueles seios com a língua, e a buceta não totalmente depilada, e incrivelmente molhada.

Prestes a explodir de tesão, fui presenteada com aquela língua no meu clitoris – ela sabia exatamente o que fazer. Gozamos, desfrutando como havia de ser. Sem esperar o depois, porque o agora valia a pena como nunca antes.

Nós nos descobrimos e descobrimos o quanto queríamos isso. Ela sorriu e, ainda bêbadas, gargalhamos pela centésima primeira vez. Ainda havia paus a serem descritos e garrafas a serem abertas.