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As certezas e as incertezas do caso Cunha. Por Paulo Nogueira

Morto vivo

Na imensa confusão que reina em Brasília com o mandato de apreensão em busca nas casas de Eduardo Cunha, há alguns fatos inegáveis.

O primeiro é que o dia foi péssimo, inegavelmente, para Eduardo Cunha. Numa única manhã, ele acordou com a PF em sua residência oficial e viu, poucas horas depois, ser aprovada na sua Câmara a continuidade do processo que deverá cassá-lo.

Quer mais?

Isto posto, vem o segundo fato. A esta altura, quanto pior a situação de Cunha, melhor a de Dilma.

Cunha é o motor, é a alma, é a cara do impeachment. Por mais que Aécio, FHC e demais golpistas tentem agora se livrar da imagem de sócios de Cunha, a sinistra aliança já ficou suficientemente exposta aos olhos dos brasileiros.

Coloque no Google Imagens as palavras Eduardo Cunha e Aécio e você verá múltiplas fotos dos dois companheiros, com o sorriso maligno de conspiradores.

Enfraquecido Cunha, murcham junto seus parceiros no crime de lesa democracia. É absolutamente impossível, agora, dissociar o processo de impeachment da figura odiosa de Eduardo Cunha.

Basta dizer isto: sem ele não teria sido aceito um pedido de impeachment tão brutalmente fajuto.

Temos então o seguinte: a campanha pela deposição de Dilma sofreu uma enorme derrota com a Operação Catilinárias.

Enfileirados os fatos, vamos agora às questões que emergem.

A mais importante é esta: por que se demorou tanto para um mandato de apreensão e busca nos domínios de Cunha?

Entre as provas acachapantes enviadas às autoridades brasileiras pelos suíços e a operação desta manhã transcorreu uma eternidade.

Livre, ele teve tempo suficiente para arremessar o país a uma crise política com terríveis consequências para a economia. Pessoas perderão o emprego, empresas quebrarão ou postergarão investimentos – tudo por conta da mão satânica de um gangster político sem nenhum limite.

Quem pagará por isso?

Num mundo menos imperfeito, a conta seria entregue a quem sustentou Cunha em sua louca cavalgada, a neo-UDN, o PSDB.

Cunha não se elegeria tão facilmente presidente da Câmara, com o propósito de infernizar Dilma e auferir lucros pessoais, se o PSDB tivesse tido a decência de lutar para impedir que um sujeito como ele chegasse ao terceiro posto mais importante da República.

Mas há tempos o único objetivo dos tucanos na política se resume ao clássico “quanto pior, melhor”. Não há vestígios de grandeza nas ações do PSDB.

O atraso monumental do ataque a Eduardo Cunha deu a ele tempo infinito para se livrar, com folga, de qualquer coisa comprometedora.

Um amigo me perguntou: o que a PF encontrou na casa dele? Minha resposta foi instantânea: sua mulher.

Para alguns, foi mais um indício de que ele não serve mais para as intenções golpistas da plutocracia. Dias atrás, editoriais do Globo e da Folha – com o mesmo atraso impressionante da Catilinárias – pediram a remoção de Cunha.

Ainda que isso seja em parte verdade, não elimina o fato que a ação tem um efeito simbólico: Eduardo Cunha é um morto vivo na política, um pária que conseguiu reunir o ódio, a repulsa de pessoas de petistas e antipetistas.

Tirá-lo da cena agora não fortalece os adeptos do golpe. Se este foi o objetivo, como alguns pensam, é um ato meramente de desespero.

Por que é tarde demais para desvincular a imagem de Cunha do golpe.

Cunha é o golpe, em toda a sua sordidez.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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