As diferenças internas na esquerda não são maiores do que a necessidade de enfrentar Bolsonaro. Por Gabriel Elias

Atualizado em 21 de maio de 2020 às 16:19
Parlamentares protocolaram primeiro pedido coletivo de impeachment de Bolsonaro. Foto: reprodução do Facebook

Outro dia, PDT, PSB, REDE e PV fizeram um ato “Janelas pela democracia” e não chamaram os demais partidos de esquerda. Hoje PT, PCdoB, PSOL, PCB, PCO, PSTU e UP protocolaram um pedido de impeachment. Chamaram PDT, PSB, REDE e PV, que não quiseram participar. Ruim isso.

Virou lugar comum clamar por unidade contra o governo Bolsonaro, mas, enquanto a disputa artificial por hegemonia predominar, esses discursos não serão mais que palavras bonitas para inglês ver.

Ciro Gomes coloca críticas ao PT como justificativa para não se aliar ao partido nesse momento. O PSOL e quase todos esses partidos que protocolaram o impeachment fizeram oposição ao PT no momento em que o partido tinha maior popularidade. Nessa época, Ciro era aliado do Lula.

Não só Ciro foi aliado do PT durante todo seu governo, como o PSB, Rede e PV também foram enquanto o partido tinha alta popularidade no Governo (antes de 2013). Isso mostra o quanto é artificial a resistência em construir uma frente única contra Bolsonaro agora. Oportunismo.

E vejam bem: Não estou dizendo que a oposição tem que ficar refém do PT. Até porque o PT tem sido muito comedido na oposição ao governo Bolsonaro. Parte do Psol, por exemplo, também protocolou um pedido de impeachment antes, quando o PT era contra. E foi correto.

Também acho legítimas as tentativas de construção de alternativas ao PT. Acredito que é necessária uma construção assim à esquerda. Mas essas construções alternativas não podem se sobrepôr às urgentes estratégias conjuntas de oposição ao governo.

As nossas diferenças não são maiores que as que temos com o Governo Bolsonaro. E isso tem que entrar na conta de todo cálculo político.

Na verdade, a maior parte das vezes que se critica a falta de unidade é para apontar a dificuldade de se construir com o PT por causa de seu hegemonismo. Mas o Ciro tem se mostrado mais oportunista no momento, dificultando a construção de uma frente ampla. Essa é a verdade.

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Gabriel Elias é cientista político.

Texto publicado no perfil do autor no Twitter.