No dia 24 de novembro de 2013, a Polícia Federal apreendeu 445 quilos de pasta de cocaína numa propriedade rural de Afonso Cláudio, no Espírito Santo. A droga vinha de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, a bordo do helicóptero que pertence à família Perrella, do senador Zezé e de seu filho Gustavo, deputado estadual, ambos com carreira política construída sob as asas de Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais.
O caso do Helicoca, apelido carinhoso dado por investigadores e advogados, estourou no Brasil. Há dois meses, o DCM tem se dedicado a apurar a história com reportagens exclusivas do jornalista Joaquim de Carvalho. Na próxima semana, daremos continuidade. Um documentário está sendo produzido.
Eis as dúvidas mais frequentes sobre o caso e suas respostas:
A família Perrella está envolvida?
O helicóptero usado no transporte do entorpecente pertence à família e um dos pilotos era funcionário de uma empresa dos Perrellas, além de ocupar cargo de confiança na Assembleia Legislativa de Minas Gerais por indicação do deputado estadual Gustavo.
O que a polícia diz sobre o envolvimento da família Perrella?
Descartou em poucas semanas, surpreendentemente, com base em mensagens encontradas no celular do piloto Rogério Almeida Antunes, em que ele diz que os Perrellas não sabiam da viagem ao Paraguai.
O uso do helicóptero pode ter sido apenas coincidência?
É difícil acreditar nessa versão quando se sabe que o piloto que planejou a operação de transporte da droga é de São Paulo, tinha cinco helicópteros e trabalhava no Campo de Marte, onde está a maior frota do mundo. Por que traria um de Belo Horizonte? Além disso, um helicóptero não costuma sair da garagem sem o conhecimento do dono. Não estamos falando de um Fiat 147.
Como a polícia chegou ao helicóptero no Espírito Santo?
A versão oficial: o serviço reservado da PM do Espírito Santo levantou suspeitas de tráfico na região.
O que pode ter acontecido de fato?
A PF já sabia do pouso e, por isso, mandou uma equipe para lá. Pode ter sido avisada por alguém ou obteve a informação em escuta telefônica, certamente clandestina.
Quais são os erros do inquérito da Polícia Federal?
A Polícia Federal limitou a investigação à prisão das quatro pessoas flagradas com a coca transportada no helicóptero, além de identificar e indiciar o proprietário do sítio usado para o pouso.
O que a Polícia Federal fez além disso?
Indiciou os cinco envolvidos e mais nada.
A quem pertencia a droga?
Não se sabe. A polícia não aponta. Diz apenas que a cocaína foi carregada em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.
Algum dos presos pode ser o dono da droga?
Dois dos cinco presos podem ter alguma participação na propriedade da droga. Um deles é Robson Ferreira Dias, que a PF descreve como comerciante no Rio, mas que, na verdade, é um empresário que já teve negócios no futebol profissional. O outro é Elio Rodrigues, também empresário. Os três outros foram contratados para serviços operacionais.
Algum dia saberemos de quem era o pó?
Não interessa à Justiça e à polícia que isso seja revelado.
Há outros envolvidos?
Sim. Nas mensagens encontradas nos celulares dos presos, há conversas com um certo Giga e um certo Frajola, apelidos de pessoas não identificadas pela Polícia Federal. Eles dão ordem aos traficantes presos. Além disso, o helicóptero pousou num hotel na Grande São Paulo, onde ficaram 50 quilos da droga.
Para onde ia o restante da droga?
Para a Europa, possivelmente Amsterdã, na Holanda.
O que a PF fez em relação ao hotel?
Nada. Nem sequer chamou os proprietários para depor.
O que traficantes presos disseram à Justiça?
Nada. No dia em que iriam prestar depoimento, o juiz mandou soltá-los.
Por que o juiz mandou soltá-los?
Porque o procurador da República que atuava no caso levantou suspeitas sobre o trabalho da Polícia Federal e se afastou do caso.
Que suspeitas?
O flagrante do helicóptero teria sido uma armação. A polícia já sabia que a aeronave pousaria ali, com base em escutas telefônicas clandestinas.
O que pode acontecer com a investigação?
O caminho mais provável é o arquivamento do Poder Judiciário, sem nenhuma punição.