As eleições estão chegando. Quais são as nossas opções? Por Pedro Fassoni Arruda

Atualizado em 1 de agosto de 2018 às 15:56
Faltam apenas dois meses para as eleições e tudo ainda está confuso

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POR PEDRO FASSONI ARRUDA, cientista político e professor da PUC-SP

Faltam dois meses para a eleição, e a maioria da população anda perdida.

1. O partido que venceu as quatro últimas eleições para presidente ainda não sabe quem será o seu candidato. O seu maior líder está preso (condenado sem provas por um tribunal de exceção) e ainda não se posicionou. O Partido dos Trabalhadores tampouco apresentou um programa de governo, assim como não definiu sua política de alianças e como será a sua relação com os antigos aliados e os novos movimentos sociais.

2. A direita divide-se entre Alckmin e Bolsonaro. Alckmin não tem votos, mas tem o apoio de praticamente todo o establishment, incluindo aí os oligopólios midiáticos, os sindicatos patronais e os partidos políticos que poderiam lhe dar uma maioria parlamentar. Bolsonaro tem votos, mas lhe falta estrutura partidária e apoio decisivo do grande capital (que pode lhe dar apoio no caso – bem provável – da candidatura de Alckmin não decolar).

3. Alckmin não representa o centro político e sim a direita. Em alguns temas, a candidatura de Alckmin pode até mesmo ser considerada de extrema-direita com colorações fascistas. Quem conhece a atuação do PSDB em São Paulo e a sua política de segurança pública, ou a relação do tucanato com os movimentos sociais sabe muito bem do que estou falando. Alckmin é um Bolsonaro que conhece as regras de etiqueta: fala manso e baixinho, não é truculento na forma de se expressar e não defende abertamente a violência praticada por agentes de Estado. É um lobo em pele de cordeiro.

4. Bolsonaro é um produto da crise estrutural do capitalismo. O crescimento da extrema-direita não é um fenômeno isolado no Brasil. A eleição de Trump nos EUA, o bom desempenho eleitoral da Frente Nacional na França, a eleição de neonazistas na Alemanha (pela primeira vez desde a segunda guerra mundial) e a Liga Norte da Itália são exemplos do crescimento do ultranacionalismo, do racismo, da xenofobia e do sexismo. O capitalismo há décadas esgotou qualquer possibilidade de emancipação. A saída é o socialismo. Ou a barbárie.

5. Ciro Gomes representa o centro, com coloração de esquerda na política econômica. O candidato se “queimou” recentemente, por tentar um acordo com o “Centrão” e levar uma rasteira: foi abandonado por partidos golpistas com quem tentou se aliar, partidos que acabaram fechando um acordo com Geraldo Alckmin. De qualquer maneira, Ciro poderia representar uma barreira de contenção ao avanço das políticas neoliberais e lograr a defesa de um nacionalismo econômico com defesa do mercado interno e da legislação trabalhista, por exemplo. O problema é que a burguesia brasileira não tem um projeto nacional, o que faz com que Ciro Gomes tenha algumas propostas interessantes para uma classe social cuja miopia já foi exaustivamente analisada pelos grandes intérpretes do Brasil.

6. Guilherme Boulos representa a mudança. Não uma mudança cosmética, mas uma mudança estrutural. O candidato do PSOL defende a desmilitarização da polícia, a reforma agrária (não o simples assentamento, mas mudanças efetivas nas relações de poder no campo brasileiro), a tributação das grandes fortunas, uma reforma urbana, os direitos das minorias, a soberania nacional, uma política externa independente, os direitos trabalhistas, a Previdência Social etc.

7. Mas não podemos pensar apenas na eleição para presidente. Haverá também eleição para deputados e senadores, e aí está outro grande problema. É bem provável que a renovação do Congresso seja pequena, e sabemos também que a atual legislatura é a mais conservadora dos últimos 50 anos no Brasil. Existe uma grande chance até mesmo de aumento da bancada conservadora: latifundiários, fundamentalistas religiosos, integrantes da “bancada da bala” etc. A exclusão da candidatura de Lula ajudará bastante os grupos mais conservadores (uma eventual candidatura do ex-presidente ajudaria a “puxar votos” para a esquerda).

8. Independente do resultado da eleição, temos sempre que levar em consideração que os nossos sonhos não cabem nas urnas. Nós, que nos reivindicamos de esquerda, já deveríamos estar nas ruas lutando contra os retrocessos. A política não se faz apenas nas urnas, a cada quatro anos. A política é feita também na escola, na universidade, na associação de moradores, no sindicato, na fábrica, nas ruas, praças e avenidas. A política institucional é apenas uma das formas de lutas.

9. “Golpear juntos, marchar separados”: se as esquerdas não conseguem encontrar um denominador comum, que esta consigna não seja jamais esquecida.