As homenagens a Paulo Nogueira e a ideia de um Brasil justo. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 1 de julho de 2017 às 10:19
Paulo Nogueira (ao fundo), em uma foto do livro Jornalistas

É quase meia noite desta sexta-feira, 30 de junho, e continuam chegando mensagens carinhosas dos leitores do DCM dirigidas à família do diretor e fundador do site, Paulo Nogueira.

Na quase totalidade, são pessoas que Paulo não conhecia pessoalmente, mas elas se dirigem a ele como se fossem velhos conhecidos.

E, no fundo, eram mesmo.

Muitos descrevem Paulo exatamente como ele era e expressam muito do que ele pensava.

Mônica Santos disse:

“Acho que o nosso Paulo não acreditava em Deus, mas eu tenho certeza: Se Deus existe, neste momento está na porta do paraíso recebendo Paulo com um sorriso e falando mais ou menos assim: “e aí, Paulo, achou que eu era só uma invenção de alguns dominadores, né? Pois é, mas fez tudo do jeito que eu pedi, lutou por meu povo, dá cá um abraço, companheiro, vamos brindar à sua chegada.”

Mônica acrescenta:

“Não conheci o Paulo pessoalmente, mas ontem perdi um amigo muito querido. Um abraço grande a toda a família, também muito querida!”

Márcia Oliveira, uma das primeiras leitoras do DCM, parte de uma comunidade que hoje se conta em milhões, desabafou:

“Não me conformo, Say. Tento ser espírita, mas é complicado. Força aos Nogueira, muita força.”

O bravo El Cid afirmou:

“Com um nó na garganta… poxa… obrigado por suas preciosas lições de um verdadeiro jornalismo. Meus sentimentos a toda família… e sigamos em frente, pois creio que ele não gostaria que recuássemos agora! Valeu, Paulo! Você foi um humanista esclarecido, progressista e competente”.

Nas mensagens, leitores contam como conheceram o DCM e seu fundador, Paulo.

Uns foram apresentados pela filha, outros pelos pais, alguns pelos colegas do escritório.

Uma leitora contou o que se tornou um ritual para ela: ler o DCM no tablet enquanto toma café.

Quantas mensagens bonitas, fruto de quem desenvolveu um relacionamento sólido.

Ana Maria sintetizou:

“Paulo é nosso amigo. Nossa companheiro. Assim como o Kiko, o Joaquim e todos os outros que nos presenteiam com este site. O DCM já é nossa casa”.

Palavras assim remetem a uma frase de Joe Pulitzer, o publisher americano, que Paulo Nogueira citou várias vezes em seus textos: “Jornalista não tem amigo”.

Não que Paulo não tivesse amigo, não é isso.

Em um texto publicado quando ainda dirigia a Exame, ele explicou:

“Cada vez que um jornalista sela uma amizade com alguém que faça parte do universo que ele cobre, a vítima é o leitor. É uma prova inescapável do atraso do jornalismo brasileiro que tantas figuras ilustres tenham amigos importantes nas áreas sobre as quais escrevem ou que editam. É um alpinismo social feito sob vários pretextos hipocritamente grandiosos – cuja conta é sempre entregue ao leitor.”

No mesmo texto, ele afirma:

“O jornalismo brasileiro terá avançado muito quando se cristalizar entre os jornalistas a convicção de que o único amigo que podem ter é o leitor.”

Lendo as mensagens postadas no DCM, vê-se que Paulo alcançou esse objetivo e, com o Diário, ele fez amizades verdadeiras, centradas num objetivo comum: um País menos desigual.

Uma amizade em torno de princípios, não de interesses.

Não é por outra razão que ele definiu o propósito do DCM em uma frase: “Conectando pessoas em torno da ideia de um Brasil justo”

Amigos, creio que atingimos este objetivo.

Obrigado, Paulo.

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PS: A morte de Paulo foi notícia em praticamente todos os jornais, sites e revistas do País, veículos de empresas onde ele trabalhou, como a Abril e a Globo, e outros onde não teve contato direto.

Jornalistas que hoje travam o mesmo combate que ele, o de consolidar uma mídia independente no País, também se manifestaram, com palavras carinhosas e de solidariedade. O talentoso Latuff, com seus traços, foi preciso, definitivo.

A todos eles, em nome da nossa equipe, muito obrigado.