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O jornalista que inventou a página dos editoriais

Horace Greeley, o patrão de Marx, foi talvez o maior formador de talentos do jornalismo.

Greeley com sua paixão – o jornal.

Que Marx tinha levantado dinheiro como correspondente de um jornal americano, o Tribune de Nova York, eu sabia. O que eu ignorava era a grandeza do dono do jornal, Horace Greeley, um dos primeiros barões da imprensa.

Acabei conhecendo-o ao ler o excelente “Vida e Morte dos Barões da Imprensa”, do escritor britânico Piers Brendon. É uma pena que este livro não tenha sido lançado no Brasil.

Greeley era dono de uma prosa brilhante. É atribuída a ele a criação da primeira página de editoriais da história da imprensa. Todo dia ele escrevia um editorial no qual defendia alguma de suas múltiplas causas: o fim da escravatura e o pacifismo, por exemplo. Chegava ao jornal ao meio dia e só ia embora quando tudo estava pronto. Isso significa, naqueles dias, meados do século 19, cinco da manhã. Ele dizia que provavelmente ninguém tinha visto tantos nasceres do sol quanto ele.

Era um homem controverso, como nota Brendon. Defendia os direitos das mulheres, mas não a ponto de achar que elas deviam votar. Pregava a paz, mas contratava marginais para bater nos meninos que vendiam nas ruas de Nova York jornais da concorrência.

Marx disse que ele era a “voz da burguesia americana”, mas Greeley foi mais que isso.

Foi talvez o maior formador de talentos da história do jornalismo. Do Tribune, depois de aprender com o duríssimo professor que era Greeley, sairiam dois futuros barões da imprensa. Um deles, Charles Dana, comandaria o Sun, altamente influente no final dos anos 1800 nos Estados Unidos, e um precursos dos tablóides como os conhecemos. Foi um subordinado de Dana, John B. Bogart, que cunhou a frase que simboliza o jornalismo: se um cachorro morde um homem, não é notícia. Se um homem morde um cachorro, é.

O outro, Henry Raymond, fundaria um jornal ao qual deu o nome de Times. The New York Times. Esse mesmo. Raymond foi um prodígio. Aprendeu a ler aos três anos. Trabalhava alucinadamente, como seu mento Greeley.  E gostava de gastar o tempo livre com jogo e atrizes. Teve um derrame quando estava com uma delas, aos 49 anos.  Duas figuras misteriosas levaram-no à porta de sua casa, alta madrugada. Ele jamais recuperaria a consciência. Morreu aos 49 anos.

Greeley ensinou tudo de jornalismo a ambos. Mostrou também como reagir a insultos. A um desafeto que disse que limpava o traseiro com o jornal de Greeley, ele respondeu: “Continue a fazer isso. Logo sua bunda será mais inteligente que seu cérebro.”

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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