As instruções de Lula a Mauro Vieira para a reunião com Marco Rubio

Atualizado em 14 de outubro de 2025 às 14:15
O presidente Lula e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Foto: Reprodução

O presidente Lula determinou que a próxima rodada de conversas entre Brasil e Estados Unidos inclua não apenas as tarifas impostas pelo governo Donald Trump, mas também as sanções políticas que atingem autoridades brasileiras. O pedido foi feito em preparação ao encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, marcado para esta quinta (16), em Washington.

Segundo a coluna de Jamil Chade no UOL, Vieira antecipou sua viagem aos EUA após acompanhar Lula em Roma. O objetivo da visita é dar continuidade, de forma discreta, às tratativas iniciadas durante a ligação telefônica entre Lula e Trump na semana passada. Dias depois, o chanceler conversou por 15 minutos com Rubio para definir a pauta da reunião.

Fontes do Itamaraty relatam que o objetivo do diálogo é buscar caminho para uma reaproximação gradual. Dependendo dos resultados, Lula e Trump podem se encontrar ainda neste mês, durante compromissos oficiais na Ásia. O presidente brasileiro quer tratar simultaneamente de temas econômicos e políticos, apostando em uma abordagem em “múltiplas etapas” para reconstruir a confiança entre os dois governos.

Para o Planalto, Trump estaria dando sinais de mudança na política externa após perceber que a condenação de Jair Bolsonaro é irreversível. Em Brasília, a ligação entre os dois presidentes foi interpretada como um gesto de distanciamento do bolsonarismo e uma tentativa de reabrir o diálogo com Lula. A meta é transformar esse movimento inicial em um processo de “construção de confiança” entre as duas nações.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e o presidente do país, Donald Trump. Foto: Evelyn Hockstein/Reuters

O primeiro passo, segundo diplomatas, é “congelar a escalada” de tensões que marcou os últimos meses. Expressões como “encapsular a crise” circulam entre assessores de Lula. Desde o breve encontro entre os dois presidentes nos bastidores da ONU, em setembro, a Casa Branca deixou de publicar postagens críticas ao Brasil, o que foi interpretado como um sinal positivo.

Uma vez garantida essa trégua, o segundo estágio das conversas deverá abordar possíveis reduções tarifárias em setores estratégicos, com foco em commodities agrícolas e manufaturados. O governo brasileiro vê com naturalidade a escolha de Rubio para conduzir o processo, interpretando o gesto como parte da reorganização política de Trump nos EUA e uma tentativa de reforçar sua autoridade no campo diplomático.

Paralelamente às negociações comerciais, Lula quer convencer Trump a reverter medidas políticas que atingem autoridades brasileiras, incluindo sanções e restrições de visto a membros do governo e do Supremo Tribunal Federal. Na ligação recente, o presidente brasileiro destacou o impacto das punições, mas Trump, embora não tenha se comprometido, também evitou defendê-las.

No plano político, o governo brasileiro enxerga a negociação como uma oportunidade para conter a influência bolsonarista em Washington e reduzir a interferência de aliados de Trump nas eleições de 2026. O Itamaraty vê o esforço como essencial para “blindar a democracia brasileira” e consolidar uma relação pragmática com o governo dos Estados Unidos.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.