Perdemos para a Rússia, mas o vôlei é vencedor. E Bernardinho merece uma chance na seleção brasileira de futebol

Atualizado em 13 de agosto de 2012 às 9:56

 

Brasil e URSS nos anos 80: consistência

OK. Perdemos. A seleção masculina de vôlei ficou com a prata. Tomou de virada. Ainda assim: o voleibol brasileiro é vencedor.

Bernardinho é o maior medalhista olímpico da nossa história: seis delas em cima do móvel da televisão, cinco como técnico, uma como jogador. O técnico da seleção é o símbolo do vôlei como um esporte organizado, de bons resultados frequentes. É um fenômeno que explica, em parte, porque Carlos Arthur Nuzman reina há 17 anos – eleito para mais três – no Comitê Olímpico Brasileiro, o COB. Nuzman foi presidente da Confederação Brasileira de Vôlei entre 1975 e 1995.

O vôlei de quadra e o de praia colecionam 19 medalhas. Nenhuma outra modalidade teve esse desempenho.

Os times, hoje, têm estrutura e patrocínio de empresas como Fiat, Bradesco etc. O complexo de treinamento em Saquarema é invejável. Mas o principal motor desse sucesso foi a criação, ao longo do tempo, de ídolos e heróis que serviram de modelo e inspiração. A chamada geração de prata, dos Jogos de Los Angeles em 1984, foi a primeira a ficar célebre. Tinha craques carismáticos como Xandó, com sua barba meio hippie/meio tira; o bonitão Montanaro, o preferido das menininhas, inclusive da minha namorada Mariana; Renan, com o saque “viagem ao fundo do mar”; o bigodudo William; e Bernard, com o saque “jornada nas estrelas”, uma bobagem que causava efeito, tinha baixíssima efetividade, mas deixou uma marca na memória de muita gente.

Eles eram tratados como popstars e causavam alvoroço onde passavam. O vôlei estava ocupando um espaço do futebol na entressafra de títulos da seleção brasileira. Perdemos duas Copas nos anos 80 e a seleção de 90 era comandada por um sujeito que falava em “galgar parâmetros” (saudade de Sebastião Lazaroni). Nas escolas, como a minha, o vôlei passou a dividir com o futebol a preferência dos alunos. Além de jogarmos nas aulas de educação física, eram comuns disputas entre duplas na hora do recreio. As traves faziam as vezes de rede. (Havia um fator mais sutil, também: voleibol era um esporte de classe média, praticado por meninos brancos.)

A geração de ouro, de Barcelona 92, tinha Maurício, Marcelo Negrão, Tande, Giovane, Paulão. A partir de 2001, sob o comando de Bernardinho, ganhamos virtualmente tudo o que havia para ganhar: mundiais, copa do mundo, copa dos campões, uma Olimpíada. Giba se tornou uma lenda, com dois pódios olímpicos, títulos de mundiais e ligas. Ele estava em Londres com seu bigode de bandoleiro. “É meu ídolo. Eu colecionava figurinhas deles”, disse seu colega Murilo.

O time de Wallace, Bruninho, Dante e Serginho não faturou o ouro, mas faz parte de uma história consistente e de futuro. É difícil você imaginar que um dia vai flagrar Ricardinho num iate cheio de funkeiras, cheirando cocaína, ou Ricardinho doidão na noite fazendo trenzinho com travestis. Até porque, por enquanto, eles não ganham dinheiro suficiente para isso. O vôlei não movimenta os mesmos milhões de Ricardo Teixeira et caterva.

Existe, portanto, um nome para a seleção nacional de futebol: Bernardinho. No mínimo, ele dará a Neymar alguns motivos reais para enfiar o dedão na boca e chorar.