As lições que o Rio ensina a SP sobre esportes

Atualizado em 24 de setembro de 2012 às 5:57

Nosso colunista visitou a cidade e voltou deslumbrado com a paixão carioca pela atividade física

Praticar corrida tendo o Corcovado de paisagem é para poucos

Ano passado estive em Londres. Lembro–me muito bem de visitar uma praça em Parsons Green chamada Eel Brook Common. Ali tomei um susto – ela abrigava duas quadras de society bonitinhas, conservadas e, babem paulistas, públicas. Eu, que na minha vida só tinha jogado futebol em grama sintética pagando vinte reais por hora, fiquei surpreso com aquela novidade.

Em São Paulo o máximo que consegui encontrar foram algumas quadras de futsal – disputadíssimas – nos parques da cidade. Se não bastasse o pequeno complexo esportivo de Eel Brook Common, ali do lado, a quinze minutos de caminhada, estava o Hurlingham Park com seu campo de futebol e rugby, quadra de basquete e futsal, além de três quadras de tênis de grama sintética públicas.

Aliás, é tudo público. Joga quem quer. Ali, num país onde se sai de short e regata apenas durante dois, no máximos três meses por ano, o incentivo público ao esporte é bem maior do que na capital paulista onde o sol te convida a suar o corpo quase que diariamente. E não adianta argumentar que São Paulo é a capital econômica do Brasil e por isso não combina com esporte, porque Londres é um dos maiores centros financeiros do mundo.

Mas foi somente nesse fim de semana, ao ir pela terceira vez para o Rio de Janeiro, que eu descobri que não é necessário atravessar o Oceano Atlântico para encontrar uma boa estrutura esportiva pública.

Beirando a Avenida Praia do Flamengo meus olhos mal podiam acreditar no que viam: oito quadras de futebol society ainda melhores do que as de Londres e abertas ao povo. Para mim, aquilo foi surreal. Foi naquele momento que comecei a sentir na pele o verdadeiro significado do estereótipo esportivo e saudável dos cariocas.

Ao acordar sábado pela manhã, mal sabia eu a variedade de esportes que iria observar percorrendo apenas metade da orla da praia do Flamengo. Do lado direito estavam quadras de futebol, basquete, tênis, ciclovia e um calçadão de largura considerável que recebia a visita de pessoas que andavam de skate, patinavam, corriam ou apenas caminhavam. Do lado esquerdo estava a praia com a – apesar de imprópria para banho naquele local – belíssima baía de Guanabara e o Pão de Açúcar ao fundo.

"As academias públicas são incríveis", escreve Sievers

Caminhando tranquilamente sob o sol que não chegava aos 40º, mas suponho que estava perto disso, eu observava admirado a diversidade de esportes que rolava por ali. De cabeça, eu cito alguns: futevôlei, vôlei de praia, tênis de praia, frescobol, futebol de areia e até peteca.

Continuando a caminhada, ao terminar a praia, eu encontro uma academia natural. O conceito não chega a ser uma surpresa, pois não é difícil observarmos por aí ambientes com algumas barras e macas para abdominal. Contudo, o que estava a minha frente era bem diferente do que costumamos ver. Naquele lugar você podia fazer quase todos os exercícios que uma academia convencional te oferece.

De uma forma improvisada, ali se encontravam máquinas para exercícios de costas, tríceps, supino inclinado ou horizontal, pesos de cimento de todos os tamanhos, barras de todos os jeitos, equipamentos para alongamento e… o Morro da Urca de paisagem. Em algumas árvores lia-se o aviso que dizia que a contribuição financeira para a manutenção da academia ao ar livre era feita de forma voluntária. Muito justo, afinal todos acabam sendo donos dela.

Ver um corpo saudável pelos calçadões da cidade não é nenhuma surpresa – na verdade chega a ser algo ordinário. Mas isso não quer dizer que sejam somente os atletas que fazem esporte. Sem muito esforço se encontra pessoas aparentemente fora de forma pelas quadras de futvolley ou mesmo fazendo um trote.

No Rio, ao contrário de São Paulo, você se sente convidado pela cidade a dar uma volta por suas ruas. Não tem nada para fazer? Senta na praia, toma uma água de coco, conversa com que está de bobeira. Ficar em casa é sempre a última opção.

É impossível passar pelo Rio de Janeiro sem ao menos refletir sobre a sua qualidade de vida. Quem gosta de atividades físicas ficará tentado pela cidade; quem não gosta sentirá um leve incomodo pelos hábitos saudáveis dos cariocas. Se São Paulo é famosa pela nightlife, o Rio é pela daylife.

Na praia, o futevôlei e o vôlei de areia não param nunca