A série “Girls” se tornou um fenômeno mostrando meninas mimadas reclamando de homens e dinheiro

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 14:39

 

Nos últimos dois anos, Lena Dunham passou de uma nerd desconhecida de Nova York a uma aclamada garota prodígio da TV. Com sua cultuada série “Girls”, da HBO, ela atingiu um nervo do público, expondo as confusas vidas sexuais, os relacionamentos disfuncionais e as esmagadora decepções sofridas por quatro garotas.

Grande parte desse caos psicossexual gira em torno de Hannah, a protagonista interpretada por Lena, cuja batalha contra o TOC é uma metáfora de sua incapacidade de levar uma vida normal. Dunham, cuja própria vida errática tem servido de inspiração para meninas, agora é a sensação de sua terra natal, Nova York. Armada com um contrato de 3,6 milhões dólares pela publicação de um livro, “Not That Kind of Girl”, a ser lançado ainda este ano, ela está empenhada, aos 27 anos, em mudar a maneira como as pessoas pensam a respeito das moças.

“Alguns dias eu acho que tenho muita sorte, então eu quero saber como vou viver de acordo com todas as expectativas”, me disse ela. “Há tanta coisa acontecendo que eu me esforço para encontrar tempo para fazer tudo o que eu preciso fazer… Eu queria abordar a questão de como essas mulheres enfrentam o fato de que estão ficando mais velhas e é hora de começar a superar a desordem de suas vidas e encontrar algum sentido nelas”.

Bonito. Uma ambição nobre. Mas, na verdade, Dunham está se concentrando em uma fração da sociedade e transformando-a em protagonista de crônicas auto-indulgente sobre jovens mulheres urbanas mimadas reclamando de homens e dinheiro. “Girls”, aliás, é co-estrelado por crianças privilegiadas de Nova York, filhas de famílias conhecidas nos círculos descolados e ricos.

Allison Williams (Marnie) é filha do âncora da rede de TV americana NBC Brian Williams, o pai de Zosia Mamet (Shoshana) é o lendário dramaturgo David Mamet e Jemima Kirke (Jessa) é filha de um baterista e proprietário de uma butique concorrida de roupas vintage em Manhattan.

Dunham mesma cresceu na cena artística de Nova York — a mãe é a famosa fotógrafa Laurie Simmons e seu pai é o artista Carroll Dunham. Foi uma criança precoce que começou a escrever histórias e peças de teatro aos 7 anos e também sofria de ansiedade e outros problemas graves o suficiente para seus pais mandarem-na para terapia, de onde não saiu ainda.

Embora Dunham faça um belo exame dos conflitos sociais modernos entre jovens de 20 e poucos anos, o seriado poderia se chamar “A Insustentável Leveza do Hipster”.

Infelizmente, essas quatro mulheres persistem nos erros do seu passado e não se engajam em qualquer auto-avaliação ou correção de curso individual ou coletiva. O cerne do problema é a visão de mundo limitada da autora. Ela imagina o universo através do prisma de garotas mimadas novaiorquinas. Nenhum dos homens vale nada (exceto o ex-chefe de Hannah, que ela matou no início da terceira temporada).

O principal personagem masculino, Adam, namorado de Hannah, é socialmente inepto, vulgar, rude e desagradável. Ele é um símbolo de como os homens nunca terão o tipo de profundidade emocional e psicológica de Hannah. Dunham não pode criar personagens masculinos interessantes que conspurquem seu mundo. Os homens são meros peões sexuais na paisagem metropolitana.

Esta perspectiva limitada condena “Girls” a uma sátira redutora ao invés de um comentário social genuíno. Não que Dunham tenha quaisquer intenções filosóficas — ela se vê como uma comediante e não como um escritor na linhagem de Arthur Miller ou David Mamet.

“Girls” surgiu como uma grande promessa de um retrato melancólico e verdadeiro dos embaraços de raparigas que têm à disposição sexo ruim, relacionamentos ruins e dificuldades no mercado de trabalho. Vimos o vazio e o desespero de Hannah, Adam, Marnie e cia. A série de TV capturou a imaginação da audiência jovem.  Mas isso se perdeu ao longo do tempo. O problema pode muito bem ser a autoindulgência de Lena Dunham.

Dunham foi muito corajosa em sua disposição de se expor diante das câmeras e ter orgulho de seu corpo como um convite para as mulheres rejeitarem o padrão das revistas de moda. Ela tem defendido corretamente a noção de que as mulheres podem admitir o seu sentimento de deslocamento social.

Mas, dado o resultado decepcionante terceira temporada de “Girls”, algo parece fora da ordem. Em vez de dar a suas personagens a chance de crescer e prosperar, elas se movem para o lado e deslizam para baixo. A choradeira de meninas lamentando sobre os homens cansa.

Lena Dunham ainda pode encontrar uma saída de sua viagem narcisista e trazer alguma redenção, beleza e maturidade à sua obra. É hora de Lena dotar seus quatro avatares femininos à beira de colapsos nervosos coletivos de um pouco mais de imaginação e inteligência em sua decadência urbana. É hora de aceitar as dores do crescimento.