
As investigações da Polícia Federal revelam novos detalhes sobre a atuação de parlamentares fluminenses investigados por envolvimento com o crime organizado. Documentos da Operação Zargun mostram que o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), trocou mensagens em tempo real com o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias (MDB), enquanto agentes cumpriam mandados de busca e apreensão contra ele, em setembro.
Esse intercâmbio foi decisivo para a deflagração da Operação Unha e Carne, que levou Bacellar à prisão nesta quarta-feira (3).
Segundo a PF, às 6h03 do dia da operação, TH Joias enviou ao presidente da Alerj uma foto captada pelo sistema de segurança de sua casa, mostrando policiais federais dentro do imóvel. Na mesma conversa, o parlamentar compartilhou o contato de sua advogada. Para os investigadores, o conteúdo das mensagens indica que Bacellar tinha conhecimento prévio da ação e acompanhava o desenrolar dos mandados antes de sua conclusão.

A partir do alerta, TH Joias adotou uma série de ações para eliminar ou ocultar provas. A PF descreve que o deputado apagou o celular antigo, comprou um novo aparelho, organizou uma mudança às pressas com auxílio de um caminhão-baú e retirou diversos objetos da residência.
A troca do telefone também foi relatada a Bacellar, que reage em um dos diálogos quando TH Joias pergunta se poderia deixar um freezer e outros itens na casa. “Deixa isso, tá doido? Larga isso aí, seu doido”, respondeu o presidente da Alerj — mensagem que, segundo a PF, caracteriza orientação direta para evitar apreensões.
Agora, os investigadores tentam identificar quem teria repassado informações sigilosas da Operação Zargun a Bacellar. Para a PF, as conversas “indicam envolvimento direto do presidente da Alerj no encobrimento do investigado e na tentativa de obstruir a atuação dos órgãos de persecução penal”.
Rodrigo Bacellar cumpre seu segundo mandato na Alerj. Ex-secretário de Estado, foi eleito deputado em 2018, reeleito em 2022 com 97.822 votos e chegou à presidência da Casa por unanimidade em 2025. Ele é o segundo presidente da Alerj preso enquanto ocupava o cargo, o primeiro foi Jorge Picciani, detido na Operação Cadeia Velha.
TH Joias, por sua vez, responde a acusações de utilizar o mandato para favorecer o Comando Vermelho no Complexo do Alemão. A PF aponta que ele teria atuado na compra de fuzis, drogas e equipamentos antidrones, além de organizar nomeações políticas solicitadas por traficantes.
A Operação Zargun também identificou suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e infiltração de criminosos e milicianos em órgãos públicos do Estado do Rio.
Com a prisão de Bacellar, a crise política na Alerj se agrava e coloca o Legislativo fluminense novamente no centro de uma investigação de grande alcance. A PF segue tentando esclarecer como informações reservadas chegaram a parlamentares e permitiram a tentativa de obstrução das ações policiais.