Onde estão aquelas duas mulheres? No Afeganistão? Iraque, talvez? Nas montanhas do Iêmen?
Não.
Elas estão num lugar perto. Ao menos, geograficamente. Em Israel. E estão provocando celeuma. Elas pertencem a um grupo de mulheres ultraortodoxas chamado Mynet. Há não muito tempo, elas decidiram aderir aos véus tão comuns ao universo feminino árabe, para preservar a modéstia e o pudor. O grupo congrega cerca de 300 mulheres, concentradas em Jerusalém.
Israel é essencialmente ocidentalizada nos trajes e nos costumes, e a visão daquelas mulheres cobertas inteiramente por razões de modéstia e pudor – muitas vezes sem sequer um espaço para os olhos – está provocando um debate apaixonado entre os israelenses. (Aqui, um bom artigo da revista alemã Der Spiegel.)
Publicações locais notam o aumento na militâncias dos ultraortodoxos. Recentemente, um caso chocou os israelenses: um homem cuspiu numa menina de menos de dez anos por entender que ela usava um vestido não suficientemente longo.
Alguns comentaristas da mídia de Israel arriscam que a agitação dos radicais é consequência de um sentimento de perda de força e impacto que a internet e as redes sociais teriam trazido para a causa ultraconservadora.
Para mim, o mais interessante no véu das mulheres israelenses está no terreno da simbologia. Elas parecem integradas, espiritualmente, às mulheres árabes, e isso lembra dolorosamente que ali, naquela região, as guerras são travadas entre irmãos que compartilham a mesma história e tradições em muitos casos tão parecidas que, como no caso das mulheres cobertas, você não consegue distingui-las.