As ondas de doenças infecciosas que devem afetar o RS após enchentes

Atualizado em 12 de maio de 2024 às 12:39
Centro de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, completamente alagado. Foto: Sérgio Lima/Poder360

As consequências das inundações no Rio Grande do Sul continuarão por muito tempo. Conforme evidenciado em outras grandes enchentes em todo o mundo, a tendência é de um aumento nos casos de várias doenças infecciosas, como diarreia, problemas respiratórios, leptospirose, hepatite A e dengue. Com informações da BBC News Brasil.

Estas doenças surgirão em ondas, de acordo com o tempo de incubação de vírus, bactérias e outros patógenos, além do tipo de exposição de risco das pessoas afetadas.

Muitas pessoas precisaram sair de suas casas a nado e, durante esse processo, tocaram ou ingeriram a matéria orgânica que subiu de bueiros, valas e esgotos. Esse contato se dá por meio da pele, das mucosas e da boca, pela ingestão acidental desse líquido.

Algumas pessoas também se feriram em pedaços de vidros, madeiras e outros materiais cortantes – o que abre novas portas de entrada para patógenos no organismo.

“Como podemos imaginar, essa água está nitidamente contaminada. Ela é escura e deve estar cheia de matéria orgânica, com excretas de humanos e outros animais”, disse o médico Alessandro C. Pasqualotto, presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia.

“E obviamente quem teve contato com esses líquidos corre um risco maior de adoecer”, acrescentou.

PRIMEIRA ONDA: DIARREIAS E INFECÇÕES DE PELE

Nos primeiros dias após as inundações, as infecções de pele, pneumonias por aspiração, infecções respiratórias virais e gastroenterites (diarreia) são as doenças que mais aparecem após o desastre climático.

Os mais vulneráveis a infecções intestinais são as crianças muito pequenas e os mais velhos.

O contato com a água contaminada durante o desastre é a fonte primária de infecção, enquanto as aglomerações em abrigos facilitam a transmissão de vírus respiratórios, como resfriados, gripe e Covid-19.

As moradias improvisadas, com higiene precária, também reúnem as condições para a dispersão de parasitas, como aqueles que provocam a escabiose (sarna) e a pediculose (infestação por piolhos).

Vista aérea de Montenegro (RS) inundado. Foto: Reprodução/Prefeitura de Montenegro

SEGUNDA ONDA: LEPTOSPIROSE, TÉTANO E HEPATITE A

Após 7 a 10 dias das inundações, outras doenças, como leptospirose, tétano e hepatite A, tornam-se mais frequentes. O risco de leptospirose é especialmente alto devido ao contato com água contaminada por urina de animais, principalmente ratos.

No caso da leptospirose, a SBInfecto e outras entidades divulgaram um posicionamento no último dia 5 defendendo o tratamento profilático a indivíduos de alto risco. Ou seja, pessoas que tiveram muito contato com material contaminado — como as equipes de socorristas de resgate e voluntários, além dos moradores que ficaram na água por um tempo prolongado — devem tomar um remédio preventivo, antes mesmo de apresentar qualquer sintoma.

TERCEIRA ONDA: DENGUE

Embora o frio possa inicialmente reduzir os casos de dengue, já que o Aedes aegypti costuma ficar mais ativo quando a temperatura está elevada, durante o verão e a primavera, os casos de dengue podem aumentar nas próximas semanas.

“A dengue já era uma preocupação antes das enchentes, pois tivemos um número elevado de casos e mortes no Brasil inteiro neste ano. E isso afetou inclusive áreas que não costumavam ter esse problema, como é o caso da região Sul do país”, analisou Pasqualotto.

“À medida que a água começar a baixar, podemos ter a formação de muitos focos de criadouro de mosquito e a dengue voltará a ser uma preocupação”, completou.

Sem o devido cuidado, essas enfermidades podem descompensar e desencadear diversas consequências, como quadros agudos de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

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