“As pessoas terão disenteria”: diretor da Sabesp fala de rodízio e contaminação da água em SP

Atualizado em 25 de fevereiro de 2015 às 16:55

água

 

“Nós estamos reduzindo a pressão do fornecimento de água e isso já é racionamento. Reduzir o consumo é isso. O que não temos ainda é um rodízio. Pode ser que algumas pessoas estejam bebendo água contaminada, mas prefiro pensar que isso ainda não aconteceu. E o que acontece durante uma contaminação de água? As pessoas terão disenteria e hoje temos medicina suficiente para minimizar riscos de vida”, admitiu o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, em depoimento à CPI da Sabesp na Câmara Municipal nesta quarta-feira (25).

Massato foi convocado junto com o presidente da companhia, Jerson Kelman, para prestar esclarecimentos.

Em todo momento, o diretor e o presidente evitaram a palavra racionamento, até que Massato explicou que as tubulações da Sabesp estão sofrendo reduções de pressão e isso seria uma maneira de diminuir o consumo e o fornecimento em determinados horários sem interromper o funcionamento do sistema.

Kelman mostrou dados diferentes dos documentos apresentados por sua antecessora no cargo, Dilma Pena, em 2014. Para ele, as perdas de água em vazamentos caíram, desde 2004, de 40% para 29%. Os dados destoam de relatórios anteriores que apontavam para uma perda de 36% dos recursos hídricos em tubulações.

O executivo, que já trabalhou na Light do Rio de Janeiro, também enfatizou que o programa de bônus por economia de consumo, anunciado por Geraldo Alckmin em fevereiro do ano passado, produziu resultados para 2015.

Tanto Jerson Kelman quanto Paulo Massato descartaram a instituição de um rodízio a ser iniciado entre os meses de maio e agosto deste ano porque a Sabesp acredita que terá as obras prometidas pela gestão Alckmin para otimizar a captação e a distribuição de água.

No entanto, se o racionamento ocorrer num rodízio, com fechamento das tubulações, podemos esperar ter dor de barriga.

Massato na CPI da Sabesp
Massato na CPI da Sabesp

 

Massato chegou a ser questionado pelo DCM sobre a falta de obras para estancar vazamentos, que envolvem o nome dele na formação de um suposto cartel de fornecedores de acordo com denúncia recebida pelo Ministério Público. O diretor, no entanto, não respondeu às perguntas.

Mais de R$ 160 milhões em obras sem licitação

O promotor Otávio Ferreira Garcia investiga os contratos feitos pela Sabesp depois do início da crise hídrica, decretada em janeiro do ano passado. Garcia fez um questionamento: “O montante que apuramos em nosso inquérito civil é de R$ 160 milhões nas obras emergenciais até o momento. Mas sabemos que a cifra já está maior”, afirmou.

“Segundo nossas investigações, o valor chegou até R$ 180 milhões em outubro do ano passado”, disse Garcia. De acordo com fontes da CPI consultadas pelo DCM, o valor já estaria em R$ 300 milhões em iniciativas que surtiram pouco efeito no colapso hídrico.

O final da audiência foi marcado por discussões prolongadas entre vereadores e os dirigentes da Sabesp sobre a falta de água em comunidades carentes como o Capão Redondo. Entre os questionamentos, a CPI perguntou o que a população deveria fazer caso falte água em escolas.

“Teremos problemas, alguns graves, mas nada que não tenha sido visto antes. Não devemos exagerar, mas a população será avisada com antecedência”, disse o presidente Kelman.

A julgar pela desinformação generalizada desde o início da crise, é muito pouco provável que isso ocorra.