As “políticas de governo” de Tereza Cristina mostram o nível ético da equipe ministerial de Bolsonaro. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 19 de novembro de 2018 às 14:27

A futura ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro é uma amostra grátis do nível ético que permeia a equipe ministerial do governo eleito de Jair Bolsonaro.

Intimamente ligada à estulta bancada ruralista, a deputada federal Tereza Cristina nem começou suas funções ministeriais e já é acusada de ter beneficiado a JBS através de incentivos fiscais enquanto era secretária estadual de Desenvolvimento Agrário do Mato Grosso do Sul no governo de André Puccinelli (MDB-MS).

Segundo a denúncia, Cristina teria assinado três aditivos que concederam vantagens fiscais ao grupo JBS em troca de propinas pagas ao governador.

Os documentos constam em mais um acordo de delação premiada firmado pelos irmãos Joesley e que resultaram na prisão de Puccinelli em agosto de 2017.

Nada surpreendente, a participação de Cristina no esquema não visava, por óbvio, apenas beneficiar o então governador. Ela própria mantinha negócios privados com a JBS.

Numa transação que só veio a público após o escândalo de Joesley Batista e sua empresa, ficamos sabendo que a família de Tereza arrendou uma fazenda para confinamento de gado da JBS.

No imbróglio que ora vem à tona, A JBS diz ter sido prejudicado no negócio e agora cobra na justiça algo em torno de R$ 14 milhões da futura ministra.

Pela soma em litígio, dá para se ter uma ideia do quanto rolou nessa parceria durante os anos de ouro da JBS.

Acossada, a cambaleante ministeriável precisou da ajuda da Frente Parlamentar de Agricultura (FPA) para divulgar nota oficial sobre o assunto na manhã desta segunda (19).

Segundo o documento, Tereza Cristina confirma ter mantido negócios privados com a JBS enquanto ocupava a secretaria estadual, mas que tudo se deu “de forma legal e transparente, dentro dos padrões seguidos regularmente pelos demais produtores da região e do país”.

Uma vez que sabemos quais são os “padrões seguidos regularmente” pelo agronegócio brasileiro, essa nota é basicamente uma confissão de culpa para uma série de crimes fiscais, trabalhistas e ambientais.

Sobre os aditivos assinados que concederam milhões em benefícios fiscais à reconhecidamente criminosa JBS, a FPA nos informa que a então secretária “atuou em conformidade com as políticas de governo estabelecidos à época”.

Aqui a coisa fica ainda mais grave.

Considerando que as políticas fiscais de Puccinelli se tratavam tão somente de um claro esquema de corrupção e enriquecimento ilícito envolvendo um dos mais influentes criminosos desse país com livre passagem em todo o mundo político, Tereza Cristina no fundo está admitindo descaradamente que coaduna e compartilha com a falcatrua institucionalizada.

Cartas à mesa, ninguém poderá dizer que foi pego de surpresa quando a futura ministra engrossar a fileira de novas denúncias geradas por crimes cometidos na gestão que se inicia sob a desculpa esfarrapada de apenas estar seguindo as “políticas de governo estabelecidas”.

Como o que já está estabelecido como política de governo por Bolsonaro é simplesmente um apanhado de “soluções” com base em frases de efeito, irresponsabilidades sociais, preconceito ideológico e desmantelamento dos órgãos de combate à corrupção, o que temos é basicamente a ética dos hipócritas a guiar uma nação.

Seja como for, eufemismos baratos à parte, no fim tudo se resume ao que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, se pronunciou a título do que considera ser uma defesa de sua escolhida. Disse o honesto:

“Eu também sou réu no Supremo, e daí? “

É isso. É só tudo isso.