
O governo dos Estados Unidos, sob a gestão de Donald Trump, não enviará representantes à Cúpula de Líderes sobre o Clima, que será realizada em Belém, na próxima quinta e sexta-feira, antecedendo a COP30. A decisão foi confirmada por fontes oficiais e sinaliza o distanciamento do segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo em relação à agenda ambiental internacional.
A ausência também deve se repetir durante a COP30, marcada para acontecer entre 10 e 21 de novembro na capital paraense. Segundo o Globo, diplomatas afirmaram que Washington enviará apenas uma delegação debaixo escalão, possivelmente formada por funcionários que já atuam na embaixada estadunidense em Brasília.
Essa medida reflete a política ambiental de Trump, marcada pelo negacionismo climático e pela retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris.
A decisão preocupa setores diplomáticos e ambientalistas, que temem o enfraquecimento das negociações multilaterais sobre o clima. Por outro lado, algumas organizações da sociedade civil veem o gesto como positivo, já que temiam que a presença do governo estadunidense fosse usada para sabotar discussões e pressionar países em desenvolvimento.
Apesar do afastamento oficial, os Estados Unidos ainda permanecem, tecnicamente, como signatários do Acordo de Paris, já que o processo de retirada formal exige um prazo mínimo de 12 meses. Isso garante a presença do país como membro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), embora sem engajamento político.

Nas últimas semanas, chegaram a circular rumores sobre uma possível participação do secretário de Estado, Marco Rubio, considerado um dos nomes mais ideológicos do governo Trump, mas a Casa Branca manteve a decisão de não comparecer.
O anúncio ocorre poucos dias após o encontro entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Malásia, em uma reunião bilateral voltada à discussão de tarifas comerciais — o primeiro contato direto entre os dois desde o início do novo mandato do republicano.
Para a cientista do clima Astrid Caldas, da ONG estadunidense União dos Cientistas Conscientes, a decisão era esperada e reforça a postura do governo Trump.
“A ausência apenas confirma a agenda negacionista da atual administração. Mas é importante destacar que a sociedade dos Estados Unidos continua fortemente engajada, com congressistas, empresas e organizações participando da COP30”, afirmou.
Votação no Banco Mundial expõe novo embate
As divergências entre os governos de Lula e Trump vão além da COP30. Em recente votação no Banco Mundial, que aprovou o papel da instituição como administradora do Mecanismo de Financiamento Transitório para Florestas (TFFF), o representante estadunidense foi o único entre os 25 diretores a votar contra a proposta — e sequer participou da deliberação.
O resultado, com 24 votos favoráveis, foi comemorado por representantes europeus e latino-americanos. O diretor holandês, por exemplo, elogiou o protagonismo brasileiro e citou Chico Mendes como símbolo da luta ambiental. A decisão é considerada estratégica pela diplomacia brasileira, já que o fundo será uma das principais apostas da presidência da COP30.
Desde o retorno de Trump à Casa Branca, a política externa estadunidense tem seguido a linha chamada internamente de “back to bases” — uma diretriz que rejeita pautas ligadas a mudanças climáticas, igualdade de gênero e direitos humanos, priorizando temas de segurança e economia. Foi nesse contexto que Belém saiu do radar da Casa Branca.
Claudio Angelo, coordenador do Observatório do Clima, lembra que a interferência dos Estados Unidos em conferências ambientais já gerou impasses no passado.
“Na COP13, em Bali, a representante estadunidense tentou barrar o Mapa do Caminho de Bali. O delegado da Papua-Nova Guiné respondeu: ‘Ou vocês lideram o caminho ou saiam do caminho’. Essa frase entrou para a história das COPs”, recorda.
O especialista alerta que a ausência pode evitar conflitos, mas também esvazia as negociações. “Se um país com o peso dos Estados Unidos decide se retirar, abre espaço para outros, como Arábia Saudita, Rússia e Argentina, também boicotarem os debates”.
A Argentina, sob o governo de Javier Milei, também não enviará representantes de alto escalão à Cúpula de Líderes, enquanto a França confirmou a presença do presidente Emmanuel Macron. Já o México será representado pela ministra do Meio Ambiente, Alicia Barcenas, após confirmação feita pela presidente Claudia Sheinbaum.
Ao todo, 145 delegações devem participar da COP30, das quais 57 virão com chefes de Estado, segundo o presidente da conferência, André Corrêa do Lago.