As semelhanças entre Cunha e Catilina. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 15 de dezembro de 2015 às 22:25
Cícero denuncia Catilina ( quadro de Cesare Maccari, 1882-1888)
Cícero denuncia Catilina ( quadro de Cesare Maccari, 1882-1888)

Mais palpável do que qualquer coisa que a Polícia Federal possa ter encontrado na casa de Eduardo Cunha é a relação umbilical que liga o traidor romano Catilina ao (ainda) atual presidente da Câmara.

As Catilinárias (nome que deu origem à última fase da Lava Jato) foram uma série de quatro discursos proferidos pelo cônsul e exímio orador romano Marcus Tulius Cícero contra Lucius Sergius Catilina, o célebre senador que tentou derrubar a República.

Apesar de mais de dois mil anos que se passaram entre o nascimento de um e de outro, as semelhanças entre ambos são gritantes. Se não nas aparências, mas fielmente nas atitudes.

Os dois parlamentares estão unidos, apesar dos séculos que os abismam, pelo mesmo ancestral desejo de dinheiro e poder a todo custo que são comuns aos homens de índoles inferiores.

Catilina talvez seja o pai dos políticos demagogos. Sempre com discursos inflamados em defesa do povo, pairavam sérias dúvidas sobre seu caráter, sobretudo quando surgiu rumores de ter assassinado o próprio filho.

Movido por ambição e ganância, se aliou à pior escória de Roma e tramou contra o seu povo e contra a democracia romana. Descoberto, usou dos mais baixos subterfúgios para tentar se defender. Sem sucesso.

O que o Brasil vive hoje com a figura indigesta de Eduardo Cunha é uma espécie de remake super-produzido do que o império romano viveu com Catilina e seus aliados. A grande diferença é que o nosso Cícero, Rodrigo Janot, está longe de ser um defensor contumaz da justiça.

Mesmo após descoberta e comprovada as trapaças pelas quais Cunha subtraia e atentava contra esse país, os interesses espúrios continuaram ininterruptamente, sem qualquer discurso histórico que trouxesse à luz da razão, o quanto é imperioso a prisão de nosso traidor.

Tamanha foi a inércia da PGR entre as denúncias apresentadas pela justiça suíça e a busca efetiva de evidências aqui no Brasil, que são altíssimas as probabilidades de Cunha ter se desfeito das provas que ajudariam a levá-lo à prisão.

Mas seja como for, o destino de Eduardo Cunha, tal qual o destino de Catilina, está selado. O que fez tombar o traidor romano não partiu de seus pares, partiu da guerra. Da mesma forma, o que derrubará Cunha será as ruas.

A partir daí, Cunha fará companhia a Catilina na história. Como dois depravados que ousaram estuprar a democracia.