As Sufragistas: a cortante atualidade de um filme ambientado num passado distante. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 16 de fevereiro de 2016 às 10:57
Extremamente atual: As Sufragistas
Extremamente atual: As Sufragistas

“As Sufragistas”, filme de Sarah Gravron, se passa no início do Século XX, mas poucas histórias de ficção conseguem ser tão contemporâneas.

A protagonista, interpretada por Carey Mulligan, é uma operária que descobre a luta feminista – em plena efervescência – e toma-a para si. O que acontece depois só as mulheres que verdadeiramente se comprometem com a luta pela igualdade de gêneros – em qualquer época – podem compreender.

É quase desesperador pensar que todos os personagens do filme existem no mundo moderno de uma maneira tão óbvia que beira o caricatural.

Há as mulheres que desprezam o movimento. Aquelas que gritam em praça pública que não precisam do feminismo e que estão muito bem vendo seus direitos políticos serem sonegados. Qualquer semelhança com algumas mulheres contemporâneas não é mera coincidência.

E o mais intrigante é que, um século depois, as razões continuam exatamente as mesmas: as antifeministas não querem parecer chatas ou ácidas, não querem que os homens as vejam com maus olhos. Querem preservar em si a doçura que (para elas) o feminismo rouba: e permanecem sendo as moças pudicas, dóceis e alienadas que o patriarcado tanto ama (e, ainda assim, violenta).

O marido que abandona a esposa quando ela decide militar por seus direitos também não é um personagem fictício, infelizmente. Aqueles que são os homens perfeitos até que sua amada tome consciência de seus direitos, aqueles que possuem retidão e senso de justiça mas consideram o feminismo vergonhoso… estão por aí aos montes.

Esses homens continuam justificando o injustificável – o machismo – muitos deles através de argumentos do século passado. Mantêm a ideia arcaica de que apoiar o feminismo lhes tira a macheza dominante que, para eles, lhes pertence. Um século depois, muitos continuam sentindo-se desrespeitados quando suas companheiras decidem sair do lugar de subserviência.

(Definitivamente, o patriarcado precisa reciclar seus argumentos).

Há, também, aquelas que, como a icônica personagem de Carey Mulligan, dão a cara a tapa e pagam um alto preço. Perdem o respeito e o amor de pessoas queridas e a posição de “mulher respeitável”, mas ganham o que nenhuma outra coisa pode lhes proporcionar: o direito de serem verdadeiramente livres.

Nós não precisamos mais atirar pedras a vitrines, mas, em pleno Século XXI, precisamos ir às ruas por direitos que, de tão óbvios, sequer precisariam ser reinvindicados.

Aqueles que tentaram deter nossas antepassadas se reproduziram. Seus netos estão nas ruas assediando mulheres, na mídia legitimando o estupro, nas redes sociais reproduzindo discursos machistas, nas relações abusivas violentando suas mulheres e suas filhas… eles continuam vivos, embora ofegantes, apagados, cansados, quase vencidos pela nossa persistência.

Somos as netas das mulheres que eles não conseguiram calar. Elas venceram no século passado e nós também venceremos. Por elas, por nós e pelas nossas filhas.

O machismo é atemporal. A força das mulheres também.