As torcidas gays saem do armário

Atualizado em 25 de abril de 2013 às 13:36

Uma atleticana faz o elogio do surgimento do Galo Queer, um entre vários grupos de torcedores homossexuais de grandes times brasileiros.

A torcida do Galo diz não à homofobia
A torcida do Galo diz não à homofobia

O texto abaixo foi publicado, originalmente, no site Blogueiras Negras. A autora é Luana Tolentino.

Somos cinco aqui em casa.

Meus pais sempre trabalharam muito; em função disso, não puderam estar presentes em momentos importantes da minha vida e dos meus irmãos.

Lamentavelmente, dona Nelita e o seo Nicolau não me viram marcar o gol do título do campeonato de futebol feminino da 6º série. Também não presenciaram o meu irmão sagrar-se campeão do concurso de lambada do colégio.

Fruto dessa ausência, o time de futebol pelo qual torcemos não foi uma imposição (porque time a gente não escolhe!) dos meus pais. Resultado: o Dennis é cruzeirense por culpa do Vicente, um ex-vizinho. Miriam e eu amamos o Galo graças à dona Joana, uma senhora que durante alguns anos ajudou a minha mãe na nossa criação.

Falar do Clube Atlético Mineiro não é tarefa simples. As palavras aqui registradas foram escritas com o coração na ponta dos dedos.

Nasci na metade da década de 1980, período em que vestiam o manto alvinegro craques como (REI)naldo, Éder Aleixo, João Leite, Nelinho, dentre outros. Não fossem os erros crassos cometidos pela arbitragem, certamente teríamos pelo menos mais dois títulos brasileiros no currículo.

Os anos subsequentes foram de times medianos, sem expressão. A esperança de um elenco vencedor voltou no final dos anos 90, com a dupla Marques e Guilherme. A sintonia dos dois nos levou ao vice-campeonato no nacional de 1999.

A autora
A autora

E de novo, uma década perdida. Com exceção de 2001 e 2009 acumulamos vários vexames. O ano de 2005 ficou marcado como a “página infeliz da nossa história”. Diante da Massa, fomos rebaixados para a segunda divisão do campeonato brasileiro.

Coube a Vitor, Marcos Rocha, Pierre, Bernard, o gênio Ronaldinho Gaúcho e cia devolver a auto-estima à torcida atleticana. Com um time encantador, mais uma vez batemos na trave. No ano passado chegamos em segundo lugar no Brasileirão. Mantido o time, a fé em dias de glória permanece.

Nesses meus quase trinta anos de devoção ao Galo, poucas vezes me emocionei tanto quanto há duas semanas. Ao acessar o Facebook, descobri a Galo Queer, iniciativa de uma torcedora do Atlético que bravamente criou a página destinada ao combate á homofobia e ao sexismo no futebol.

Com a velocidade de um Euller, o Filho do Vento, a ideia da cientista social mineira logo ganhou a internet, os meios de comunicação. Hoje já somos quase 5 mil Galo queerianos. Com os mesmos objetivos, clubes como Palmeiras, Inter, Grêmio, São Paulo, Cruzeiro e Corinthias embarcaram nessa onda.

O futebol é inegavelmente um dos meios mais machistas e homofóbicos que existem. Acostumada a frequentar estádios, vejo em todo o momento pais regozijarem-se ao verem os filhos ainda na tenra idade se referindo à torcida e ao time adversário com ofensas de conotação sexual. Sem falar nos gritos de guerra das torcidas organizadas. A maioria deles impublicáveis.

Desse modo, comparo a Galo Queer a uma jogada de classe, à Toninho Cerezo que, recentemente mostrou ser um craque também fora das quatro linhas ao declarar publicamente seu amor à sua filha transexual, a top model Lea T.

A parada é dura. O time de adversários da Galo Queer e das várias frentes de luta em favor da diversidade sexual é grande. Mas isso não nos intimida. Juntos, podemos ter a mesma força que a torcida atleticana tem ao entoar o hino do Clube Atlético Mineiro nos estádios. Afinal de contas, “Galo é amor, não é intolerância”.