
A entrada de Guilherme Boulos no Palácio do Planalto inaugura uma nova fase da articulação política do governo Lula, com foco direto na mobilização social até 2026. O presidente considera o deputado licenciado do PSOL uma figura estratégica para aproximar o governo das bases populares e transformar pautas sociais em bandeiras eleitorais.
Sua nomeação para o comando da Secretaria-Geral da Presidência foi pensada para ampliar o diálogo com movimentos sociais, sindicatos e novas categorias de trabalhadores. De acordo com fontes do Planalto, Lula atribuiu a Boulos três missões principais: colocar o governo “nas ruas”, reconstruir a relação com os trabalhadores de aplicativos e popularizar o debate sobre o fim da escala 6×1.
O presidente quer que o novo ministro se torne um canal ativo entre o governo e as demandas populares, funcionando como uma espécie de braço político nas ruas, enquanto a cúpula do PT mantém foco nas negociações institucionais.
A primeira tarefa, “colocar o governo na rua”, prevê que Boulos percorra todos os estados brasileiros para divulgar políticas públicas e ouvir reivindicações de comunidades e entidades civis.
A meta é reconectar o governo com setores que se distanciaram nos últimos anos e dar visibilidade às ações federais em áreas como habitação, trabalho e renda. A ideia é repetir o estilo de atuação que projetou Boulos como liderança nacional, mas agora com a estrutura do Planalto.

O segundo desafio envolve os trabalhadores de aplicativos, grupo que simboliza um dos maiores impasses do terceiro mandato de Lula. A tentativa anterior de regulamentar a categoria fracassou após forte rejeição de entregadores e motoristas, que viram na proposta uma perda de autonomia.
Boulos assumiu a missão de reconstruir o texto em diálogo com as bases, propondo um modelo que mantenha a flexibilidade, mas garanta direitos como remuneração mínima, seguro obrigatório e transparência no uso de algoritmos.
O novo projeto, articulado com sindicatos e associações de trabalhadores, já recebeu apoio de parlamentares de dez partidos, inclusive da centro-direita. A expectativa no Planalto é que a proposta avance no Congresso ainda neste semestre e sirva como vitrine social do governo nas eleições. Ministros próximos a Lula consideram que o tema pode reaproximar o governo de segmentos urbanos e jovens, essenciais para a base eleitoral petista.
A terceira missão é consolidar o debate sobre o fim da escala 6×1, reivindicação que ganhou força entre trabalhadores e influenciadores digitais. A proposta, que prevê alterar o regime de folgas semanais, virou pauta popular nas redes sociais e tem como principal defensora no Congresso a deputada Erika Hilton, também do PSOL.
Lula abraçou a ideia e delegou a ele a tarefa de transformá-la em bandeira de campanha, articulando sindicatos e movimentos sociais em torno do tema. Além das missões políticas, Boulos terá de conduzir a transição na Secretaria-Geral.
Ele deve se reunir com Márcio Macêdo, seu antecessor, para avaliar quais projetos serão mantidos e quais serão reformulados. A composição da nova equipe será o primeiro teste do ministro, que pretende equilibrar quadros ligados ao PSOL, ao MTST e a movimentos aliados, como o MST, evitando disputas internas no campo da esquerda.