As três missões de Lula para Boulos como ministro

Atualizado em 21 de outubro de 2025 às 14:05
Guilherme Boulos e o presidente Lula. Foto: Divulgação

A entrada de Guilherme Boulos no Palácio do Planalto inaugura uma nova fase da articulação política do governo Lula, com foco direto na mobilização social até 2026. O presidente considera o deputado licenciado do PSOL uma figura estratégica para aproximar o governo das bases populares e transformar pautas sociais em bandeiras eleitorais.

Sua nomeação para o comando da Secretaria-Geral da Presidência foi pensada para ampliar o diálogo com movimentos sociais, sindicatos e novas categorias de trabalhadores. De acordo com fontes do Planalto, Lula atribuiu a Boulos três missões principais: colocar o governo “nas ruas”, reconstruir a relação com os trabalhadores de aplicativos e popularizar o debate sobre o fim da escala 6×1.

O presidente quer que o novo ministro se torne um canal ativo entre o governo e as demandas populares, funcionando como uma espécie de braço político nas ruas, enquanto a cúpula do PT mantém foco nas negociações institucionais.

A primeira tarefa, “colocar o governo na rua”, prevê que Boulos percorra todos os estados brasileiros para divulgar políticas públicas e ouvir reivindicações de comunidades e entidades civis.

A meta é reconectar o governo com setores que se distanciaram nos últimos anos e dar visibilidade às ações federais em áreas como habitação, trabalho e renda. A ideia é repetir o estilo de atuação que projetou Boulos como liderança nacional, mas agora com a estrutura do Planalto.

Boulos durante evento em Heliopolis (SP). Foto: Divulgação

O segundo desafio envolve os trabalhadores de aplicativos, grupo que simboliza um dos maiores impasses do terceiro mandato de Lula. A tentativa anterior de regulamentar a categoria fracassou após forte rejeição de entregadores e motoristas, que viram na proposta uma perda de autonomia.

Boulos assumiu a missão de reconstruir o texto em diálogo com as bases, propondo um modelo que mantenha a flexibilidade, mas garanta direitos como remuneração mínima, seguro obrigatório e transparência no uso de algoritmos.

O novo projeto, articulado com sindicatos e associações de trabalhadores, já recebeu apoio de parlamentares de dez partidos, inclusive da centro-direita. A expectativa no Planalto é que a proposta avance no Congresso ainda neste semestre e sirva como vitrine social do governo nas eleições. Ministros próximos a Lula consideram que o tema pode reaproximar o governo de segmentos urbanos e jovens, essenciais para a base eleitoral petista.

A terceira missão é consolidar o debate sobre o fim da escala 6×1, reivindicação que ganhou força entre trabalhadores e influenciadores digitais. A proposta, que prevê alterar o regime de folgas semanais, virou pauta popular nas redes sociais e tem como principal defensora no Congresso a deputada Erika Hilton, também do PSOL.

Lula abraçou a ideia e delegou a ele a tarefa de transformá-la em bandeira de campanha, articulando sindicatos e movimentos sociais em torno do tema. Além das missões políticas, Boulos terá de conduzir a transição na Secretaria-Geral.

Ele deve se reunir com Márcio Macêdo, seu antecessor, para avaliar quais projetos serão mantidos e quais serão reformulados. A composição da nova equipe será o primeiro teste do ministro, que pretende equilibrar quadros ligados ao PSOL, ao MTST e a movimentos aliados, como o MST, evitando disputas internas no campo da esquerda.

Guilherme Arandas
Guilherme Arandas, 27 anos, atua como redator no DCM desde 2023. É bacharel em Jornalismo e está cursando pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Grande entusiasta de cultura pop, tem uma gata chamada Lilly e frequentemente está estressado pelo Corinthians.