Ascensão de Haddad ofusca Bolsonaro no 2º turno e desidrata tese do voto útil. Por Tiago Barbosa

Atualizado em 24 de setembro de 2018 às 22:56
Fernando Haddad, candidato presidencial do PT. Foto: Divulgação/Twitter

As entrelinhas do recorte eleitoral feito pelas principais pesquisas de intenção de voto, a duas semanas do primeiro turno, são eloquentes: o reencontro do Brasil com a democracia passará, obrigatoriamente, pela confiança no PT.

A ascensão de Fernando Haddad – insuflada pela transferência dos votos lulistas – já ofusca Jair Bolsonaro no segundo turno e desidrata a tese do voto útil difundida sob receio da vitória do candidato da extrema-direita.

O cenário é ainda mais animador para o representante da esquerda porque o capitão da reserva estancou nos 28% enquanto o movimento do petista (22%) é de alta – com possibilidade de crescimento entre o eleitorado para quem ele é desconhecido.

A configuração eleitoral enseja uma óbvia ironia histórica.

Dois anos atrás, o PT era defenestrado do poder sob um golpe jurídico-midiático embalado na falácia das pedaladas fiscais e respaldado pela alienação voluntária consagrada nas passeatas em verde-amarelo.

Líder do partido, Lula enfrentou julgamento de exceção, foi condenado sem provas em um processo reprovado pela comunidade jurídica e teve a candidatura barrada – a despeito do protesto da ONU e da jurisprudência brasileira.

Mas o estímulo ao ódio – elemento de coesão das forças contrárias ao partido – gerou uma anomalia democrática: Bolsonaro e o fortalecimento do discurso misógino, racista, homofóbico, xenófobo e abertamente golpista abraçado pelo ex-militar.

A ojeriza às declarações do candidato – incompatíveis com a humanidade – fermentou um movimento de repulsa internacional liderado pelas mulheres, sob a hashtag #EleNão, e amplificado pela percepção da imprensa mundial do desastre representado pelo extremista, enxovalhado por bíblias do capitalismo, como a Economist.

A tentativa frustrada do condomínio do golpe de silenciar Lula (evidenciada na leitura do tempo político feita pelo ex-presidente) e de frear a aberração Bolsonaro (adotada pelo perfil mais reacionário do brasileiro) atirou o Brasil em uma encruzilhada eleitoral.

Ou o país se despe do antipetismo para defender a civilização ou sacrifica a democracia em nome da barbárie.