“Vai ser uma tragédia para as duas”, disse estes dias o advogado das duas suecas que acusam Julian Assange, do Wikileaks, de infrações sexuais.
Para lembrar: a legislação sueca sobre estupro é,reconhecidamente, um horror. Você pode ser acusado de estupro se, depois de uma sessão de sexo, iniciar uma segunda na madrugada sem o estrito consentimento da bela adormecida. Em algum momento nos anos 1960, no intuito de proteger as mulheres, a legislação sueca acabou desprotegendo absurdamente os homens. Um estudioso sueco da legislação sexual colocou as coisas assim: “A linha entre o sexo normal e o estupro na Suécia é tênue ou inexistente”.
A Suécia tem de longe o maior número per capita de processos por alegado estupro da Europa. Quase todos acabam não dando em nada. Entre os homens suecos, corre uma sentença que diz o seguinte: “Pegue uma autorização por escrito de uma mulher caso vá dormir com ela”.
Isto posto.
Tragédia?
O advogado das suecas estava se referindo à possibilidade de que o Equador desse abrigo para Assange, uma questão ainda em aberto, e da qual tratei no Diário esta semana. Assange no Equador, segundo o advogado, seria uma tragédia para as acusadoras.
Advogados falam barbaridades, mas este foi adiante.
Tragédia é a que Assange está vivendo. A possibilidade que ele acabe extraditado para os Estados Unidos não é pequena. Lá, você pode imaginar como ele seria tratado. Pena de morte? Talvez. Solitária? Com certeza.
E ainda que ele vá para o Equador.
Cada dia do resto de sua vida ele sabe que estará sob risco de ser assassinado por um sicário americano. Seu crime: ter mostrado os Estados Unidos como eles são, não como os filmes de Hollywood dizem que são.
Tragédia?
Tragédia é a de Assange, e não das duas suecas mal-amadas que confirmaram a frase imortal de Shakespeare: “Não existe no inferno nada que se compare à fúria da mulher rejeitada.”