Assange escreve carta ao rei Charles III e pede que ele visite a prisão de Belmarsh

Atualizado em 6 de maio de 2023 às 21:01
Julian Assange
Julian Assange (Henry Nicholls/Reuters)

O jornalista Julian Assange, preso na Grã-Bretanha, escreveu uma carta a Charles III convidando-o a visitá-lo na prisão de Sua Majestade Belmarsh, onde o fundador do WikiLeaks está encarcerado há mais de quatro anos enquanto luta contra a extradição para os Estados Unidos.

Ele ofereceu parabéns irônicos ao rei por ser tecnicamente o anfitrião da maior população carcerária da Europa.

Assange está na mira de Washington desde que o WikiLeaks expôs os crimes de guerra dos EUA no Iraque e em outros lugares do planeta. Se extraditado, pode pegar prisão perpétua.

“Na coroação de meu soberano, achei apropriado estender um convite sincero a você para comemorar esta ocasião importante visitando seu próprio reino dentro de um reino: a prisão de Sua Majestade Belmarsh”, escreve Assange.

“Pode-se realmente conhecer a medida de uma sociedade pela forma como ela trata seus prisioneiros, e seu reino certamente se destacou nesse aspecto. É aqui que 687 de seus súditos leais são mantidos, apoiando o recorde do Reino Unido como a nação com a maior população carcerária da Europa Ocidental.”

Ele aponta sarcasticamente para o compromisso do governo do Reino Unido de implementar a maior expansão de prisões em mais de um século e as “delícias culinárias” de comer com um orçamento de duas libras por dia.

“Como prisioneiro político, mantido a bel prazer de sua majestade em nome de um soberano estrangeiro envergonhado, sinto-me honrado em residir dentro dos muros desta instituição de classe mundial”, diz.

“Além dos prazeres gustativos … você também terá a oportunidade de prestar homenagem ao meu falecido amigo Manoel Santos, um homem gay que enfrenta a deportação para o Brasil de Bolsonaro, que se suicidou a apenas oito metros de minha cela usando uma corda grosseira feita de sua lençóis”.

“Ouça atentamente e você poderá ouvir os gritos dos prisioneiros de ‘Irmão, vou morrer aqui’, uma prova da qualidade da vida e da morte dentro de sua prisão”, afirma Assange.

“Ao embarcar em seu reinado, lembre-se sempre das palavras da Bíblia do Rei James: ‘Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia’. E que a misericórdia seja a luz que guia seu reino, dentro e fora dos muros de Belmarsh.”

Na sexta-feira, o líder da oposição australiana, Peter Dutton, concordou com o primeiro-ministro, Anthony Albanese, que a detenção de Assange precisava chegar ao fim.

Pela primeira vez em mais de uma década, os líderes dos principais partidos políticos da Austrália apoiaram publicamente uma intervenção diplomática no caso, com Albanese dizendo “basta” e Dutton concordando que “já demorou demais”.

Albanese disse a jornalistas no Reino Unido, onde está participando da coroação do rei Charles, que o assunto precisa ser encerrado e que ele continua levantando o assunto por meio dos canais diplomáticos.

“Não há nada que justifique seu encarceramento contínuo”, disse Albanese. “E estou preocupado com a saúde mental do senhor Assange”.

No sábado, Lula falou sobre o caso Assange numa coletiva de imprensa, ao ser questionado por Sara Vivacqua, do DCM.

“É uma vergonha que um jornalista que denunciou a falcatrua de um Estado contra outro esteja preso e condenado a morrer em uma cadeia”, falou.

“Eu até peço perdão. Quando chegar ao Brasil, vou ligar para o primeiro-ministro, porque esse foi um assunto que esqueci de falar com ele”.