
Considerado o “czar” do tarifaço imposto a dezenas de países pelos Estados Unidos, Peter Navarro, conselheiro para assuntos de comércio e indústria do presidente Donald Trump, voltou a agitar as redes sociais com ataques contra a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e uma firma de lobby estadunidense. O alvo foi o escritório Brownstein Hyatt, que se ofereceu para representar os interesses da indústria brasileira junto à Casa Branca e ao Congresso contra as tarifas impostas ao Brasil.
Em seu blog pessoal, Navarro publicou a íntegra da proposta de 13 páginas enviada no início do mês pela empresa ao presidente da CNI, Ricardo Alban. O contrato previa custo de US$ 50 mil mensais (cerca de R$ 272 mil) por no mínimo 12 meses e listava autoridades às quais os lobistas teriam acesso. Entre elas o próprio Navarro, além dos secretários do Comércio, Howard Lutnick, e do Tesouro, Scott Bessent.
Na rede social X, o assessor de Trump debochou do material e disparou: “Lobistas de Washington D.C. se gabam em um panfleto para brasileiros afirmando que podem fazer lobby na Casa Branca pela redução das tarifas. Aviso para o Brownstein Hyatt: vocês NUNCA serão bem-vindos no meu gabinete da Casa Branca”. Em seguida, completou: “Libertem Jair Bolsonaro!”.
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DC lobbyist brochure bragging to Brazilians that they could lobby White House and get tariffs lowered. Memo to @BrownsteinHyatt. You will NEVER darken my White House door. Don’t want to trip on your slime.… pic.twitter.com/iEdTBNmwDZ— Peter Navarro (@RealPNavarro) August 19, 2025
A declaração soma-se à pressão de outros aliados de Trump que vêm condicionando qualquer possibilidade de diálogo comercial com o Brasil à reversão do julgamento de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ou à aprovação de uma anistia pelo Congresso.
O discurso repete a narrativa do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que articulou as sanções contra ministros como Alexandre de Moraes, mas ignora o fato de que outros países afetados pelas tarifas estadunidenses, como a Índia, também recorreram a firmas de lobby para tentar reduzir as medidas — em Nova Déli, o contratado foi Jason Miller, ex-assessor de Trump e próximo ao clã Bolsonaro.
Dois dias depois, Navarro voltou a atacar a Brownstein Hyatt e classificou o establishment político estadunidense como um “pântano”. “Eis a demonstração de como o pântano de Washington não funciona. É a gangue do lobby que não consegue acertar uma. Estou pensando em comprar um carrinho de palhaço para eles”, ironizou.
O lobby é legal nos Estados Unidos e movimenta bilhões de dólares todos os anos, influenciando fortemente as decisões do Congresso e da Casa Branca.
A trajetória de Navarro sempre foi marcada por controvérsias. Um dos conselheiros mais próximos de Trump, foi o primeiro ex-funcionário da Casa Branca preso por desacato ao Congresso após se recusar a entregar documentos à comissão que investigava o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio.
O trumpista também ganhou notoriedade por ter inventado um personagem fictício, Ron Vara, usado como “fonte” em seus livros — que mais tarde admitiu ser apenas um anagrama de seu sobrenome, criado para “entretenimento”.
A CNI confirmou ter buscado informações sobre escritórios de lobby que atuam nos Estados Unidos, mas disse não ter fechado contrato com o Brownstein Hyatt. A entidade não revelou se optou por outra empresa. No dossiê apresentado, o escritório prometia abrir portas no Legislativo estadunidense, com acesso a senadores como Steve Daines (Montana) e Markwayne Mullin (Oklahoma), além de reforçar seus vínculos com agências da Casa Branca.
Fundado em 1968, o Brownstein Hyatt afirma contar com 14 unidades no país, 80 profissionais e clientes que vão de companhias da Fortune 100 a startups e universidades.