Assessor de Trump diz que petróleo venezuelano pertence aos EUA

Atualizado em 17 de dezembro de 2025 às 23:39
Stephen Miller (ao centro), assessor de presidente Trump. Foto: Alex Wong/Getty Images

O vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, afirmou que o petróleo da Venezuela seria propriedade dos Estados Unidos e classificou a nacionalização do setor no país sul-americano como “roubo”. As declarações foram feitas nesta quarta-feira e ampliam as dúvidas sobre a alegação do governo Trump de que o principal foco da crise com Caracas é o combate ao tráfico de drogas.

Em uma postagem nas redes sociais, Miller disse que “o suor, a engenhosidade e o trabalho americanos criaram a indústria do petróleo na Venezuela” e que a expropriação promovida pelo Estado venezuelano teria sido “o maior roubo já registrado de riqueza e propriedade americanas”. Segundo ele, esses ativos teriam sido usados para “financiar terrorismo” e alimentar a entrada de “mercenários e drogas” nos Estados Unidos.

Empresas dos EUA e do Reino Unido participaram das primeiras explorações de petróleo na Venezuela. Ainda assim, pelo princípio do direito internacional da soberania permanente sobre recursos naturais, o petróleo pertence ao país produtor. A Venezuela nacionalizou o setor em 1976, colocando-o sob controle da estatal PDVSA. Em 2007, o então presidente Hugo Chávez estatizou os projetos estrangeiros restantes, afastando empresas como ConocoPhillips e Exxon Mobil.

As companhias recorreram à Justiça. Em 2014, um tribunal arbitral do Banco Mundial determinou que a Venezuela pagasse US$ 1,6 bilhão à Exxon Mobil. Os processos seguem em curso. Em 2019, durante o primeiro mandato de Trump, Washington impôs sanções à PDVSA. Desde que voltou à Presidência, em janeiro, Trump intensificou a estratégia de “pressão máxima” contra Caracas.

Na noite de terça-feira, Trump anunciou um bloqueio a petroleiros venezuelanos, que chamou de “sancionados”. Em publicação na Truth Social, repetiu o argumento de Miller e afirmou que a Venezuela “roubou” petróleo dos EUA. Disse ainda que o país estaria “cercado pela maior armada já reunida na história da América do Sul” e que a pressão aumentaria até a devolução de “petróleo, terras e outros ativos”.

A postura mais dura inclui ações militares. Na semana passada, forças dos EUA apreenderam um petroleiro próximo à costa venezuelana, o que Caracas denunciou como “pirataria internacional”. Desde setembro, Washington também tem atacado embarcações no Caribe que afirma serem usadas para o tráfico de drogas, numa campanha que, segundo especialistas, viola leis internas e internacionais.

Reprodução da Vanity Fair

A revista Vanity Fair citou a chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, dizendo que os ataques visam derrubar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. De acordo com a publicação, Wiles afirmou que Trump pretende manter os bombardeios “até Maduro pedir arrego”.

O governo americano também adotou medidas políticas. Em novembro, classificou o chamado “Cartel de los Soles” como “organização terrorista estrangeira”, apesar de o termo se referir a acusações de corrupção dentro do governo e das Forças Armadas venezuelanas, e não a um grupo estruturado. Não há provas de que Maduro lidere um cartel de drogas nem de que a Venezuela seja uma grande fonte de entorpecentes para os EUA.

Mesmo assim, Trump declarou nesta terça-feira que pretende rotular “o regime venezuelano” como organização terrorista estrangeira, citando o que chamou de “roubo de ativos americanos”. Outra acusação recorrente, sem comprovação, é a de que Maduro teria enviado criminosos aos EUA.

As vastas reservas de petróleo da Venezuela, consideradas entre as maiores do mundo, seguem no centro da disputa. Na quarta-feira, a revista Politico informou, com base em fontes anônimas, que o governo Trump sondou empresas privadas sobre um possível retorno ao país caso Maduro deixe o poder. Segundo uma das fontes, o interesse do setor é limitado devido aos preços mais baixos do petróleo e a oportunidades mais atrativas em outras regiões.

A líder oposicionista venezuelana María Corina Machado tem defendido a privatização do setor e a abertura ao investimento estrangeiro se houver mudança de governo. Segundo a própria Politico, ela promete essa agenda como parte de sua estratégia política.