Associar homem preto à violência é a cara de Wanessa Camargo. Por Nathalí

Atualizado em 30 de janeiro de 2024 às 13:37

Nesse grande experimento social – e me julgue quem quiser – chamado BBB, a soberba dos ricos apareceu poucas vezes tão claramente quanto agora, quando Wanessa Camargo e Yasmin Brunet resolveram rechaçar um participante da casa, e pior ainda: convenceram quase todo o elenco a fazer o mesmo.

A perseguição a Davi, participante mais jovem da edição (21 anos), negro, soteropolitano e motorista de aplicativo – um tipo que comumente incomoda e ofende os mais ricos – acabou por isolar o participante do reality: atualmente, apenas uma pessoa em mais de vinte participantes está ao lado dele.

Lembra dos pequenos burgueses que se incomodavam quando pobres viajavam de avião e faziam faculdade? É com isso que se parece o comportamento das duas sisters ao se verem obrigadas a dividir a casa com um pobre.

O nojo de pobre que elas têm – e não fazem questão de esconder – transparece não apenas na perseguição a um participante pobre, mas também na fisionomia de ambas ao olharem para ele. (É difícil descrevê-la, mas, convenhamos: todos sabemos exatamente qual o olhar fulminante lançado da burguesia ao proletariado que tenta ascender socialmente).

Quando o participante vibrou ao receber um cartão presente de cinco mil reais no iFood, por exemplo, elas lançaram a ele um olhar nítido de desprezo: para elas, um cartão de cinco mil é nada. Para ele, motivo de comemoração.

As pessoas mais pobres, quando não vivem em situação miserável, privam-se de luxos como delivery, pagam as contas (quando muito) e vivem no limite. Cinco mil de comida, obviamente, caem muito bem, e isso parece não entrar na cabeça das duas.

Não satisfeita, inclusive, Wanessa Camargo fez, mais uma vez, um comentário infeliz a respeito de Davi: “Eu sinto violência. Eu tenho medo de violência. Pra mim, é muito fácil virar a chave ali. Eu não conheço o Davi. Pra mim, qualquer homem que age dessa maneira eu saio fora. Me dá medo real”.

Imagine uma mulher casada com Dado Dolabella chamar alguém de violento? Logo ele, que bateu em Luana Piovani e faz com Wanessa sabe-se lá o que?

Associar homens negros à violência tem um nome: racismo. O que separa a violência de Davi da violência de Dado? A posição social e a cor da pele, é claro. Wanessa Camargo adota um agressor branco e acusa de violência, sem qualquer razão aparente, um homem negro. Eis o retrato mais fiel da branquitude.

A questão, no entanto, não é o racismo propriamente dito: – afinal, outros participantes negros estão sendo acolhidos. A questão é muito mais o ódio de classes impregnado nas duas burguesinhas, que, além de tudo, são burras pra caramba.

Todo participante perseguido na história do BBB ganhou o reality, desde Kleber Bam Bam, da primeira edição, até Juliette, passando por Jean Willys. Perseguir mais um é entregar o prêmio de bandeja, mas, nesses casos, o ódio fala mais alto do que a racionalidade.

Há quem diga que Davi é chato, e eu concordo plenamente. Mas e daí? Juliette era chata e virou um fenômeno. Por que com ele seria diferente?

O fato é que Davi tem sido o protagonista absoluto do programa, e certamente levará o prêmio, muito merecidamente.

Um motorista de app baiano que só quer vencer pela educação – seu sonho é estudar medicina – e que é socialmente desajeitado, mas de muito bom coração, é orgulho para todo baiano e uma pedra no sapato das patricinhas da edição.

Uma pena que, antes de vê-lo vencer e repetir seu icônico “VOLTEI, PUTA” – uma expressão baiana que não se refere a profissionais do sexo, rs -, tenhamos que vê-lo ser excluído e perseguido por um elenco inteiro. Pode entrar, Davi, novo milionário de Salvador.

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Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.