Ataque ao Legislativo mostra que Paulo Guedes age como lobista de banco, não ministro. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 14 de junho de 2019 às 19:42
Paulo Guedes, ao atacar o Legislativo

Paulo Guedes perdeu a linha ao comentar as mudanças feitas pelo relator na sua proposta de reforma da Previdência. Ele atacou o deputado Samuel Moreira, do PSDB.

“Se sair só R$ 860 bilhões de cortes, o relator está dizendo o seguinte: abortamos a Nova Previdência e gostamos mesmo da velha Previdência. Cedemos ao lobby dos servidores públicos, que eram os privilegiados.”

O que Paulo Guedes quer é o sistema de capitalização, que desonera os empresários e enriquece ainda mais os banqueiros, que terão oportunidade de captar dinheiro a longo prazo.

Mas, sem poder dizer o que talvez queira, ataca o Legislativo, com uma acusação grave: o relator teria cedido a lobby. E lobby de servidor, o que não faz sentido.

É provável, no entanto, que Guedes esteja revoltado também com outro ponto da proposta do relator: ele eleva a Contribuição sobre o Lucro Líquido dos bancos de 15% para 20%.

Ficou ruim para o banqueiro: perdeu a capitalização e ainda terá que pagar tributo maior. Será que vinga?

O risco para a população é que essas mudanças sugeridas pelo relator tucano abrem oportunidade para os banqueiros negociarem.

E banqueiros só usam uma linguagem na negociação: dinheiro.

Em seu depoimento no acordo para delação premiada, o ex-deputado Pedro Correa, que foi presidente do PP, contou que, em 1997, durante a aprovação da emenda que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, o então presidente do Banco Itaú corrompeu os parlamentares.

Segundo ele, Olavo Setúbal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar a favor da reeleição, para que se encaminhassem a um doleiro de Brasília e recebessem propinas em dólares americanos.

Pedro Correa estava lá. Olavo Setúbal já faleceu, mas contou com a defesa da família, que negou o episódio.

Na época, o que estava em jogo era o processo de privatização selvagem, em que os banqueiros tinham interesse. Era a transferência do patrimônio do povo para o controle de particulares.

Desta vez, de olho no bolso dos futuros aposentados, os banqueiros terão a chance de mudar o relatório da reforma durante a tramitação do projeto.

“O que nós gostaríamos muito de voltar é a questão da capitalização”, já anunciou o Deputado Major Vítor Hugo, do PSL de Goiás, líder do governo na Câmara dos Deputados.

Ele adiantou que o governo Bolsonaro vai apresentar proposta para incluir novamente a capitalização no texto legislativo.

E pode ter certeza: os banqueiros não ficarão de braços cruzados.