Até o diabo parece charmoso: Estadão culpa Bolsonaro pela liderança de Lula nas pesquisas

Atualizado em 27 de junho de 2021 às 8:05
Descontrolado, Bolsonaro manda repórter “voltar para o primário e o jardim de infância”. Foto: Reprodução/Twitter

Neste domingo, os leitores do Estadão são contemplados com uma nova pérola: o jornal explica a ascensão de Lula nas pesquisas e culpa Bolsonaro por aquilo que considera um desastre.

O diário não lamenta as mais de 500 mil mortes da pandemia, a economia estagnada, tampouco a fome que voltou a assombrar. Perda de direitos? Detalhe.

A queixa é outra: enquanto o mandatário brinca de ser presidente e leva o país à ruína, o mal maior, ou seja, ‘o diabo’, vai conquistando corações e mentes e se consolidando com força para 2022.

Leia trechos:

A mais recente pesquisa de intenção de voto para presidente produzida pelo instituto Ipec mostra o ex-presidente Lula da Silva com 49%, contra 23% do presidente Jair Bolsonaro. Se as eleições fossem hoje, seriam grandes as possibilidades de o petista vencer ainda no primeiro turno.

Felizmente ainda faltam 16 meses para a votação, e nem se sabe bem quem serão os candidatos – salvo Lula da Silva e Bolsonaro, que nunca descem do palanque. Portanto, não é possível cravar que esse cenário tétrico se manterá.

Mas a pesquisa mostra um fato cristalino: é Bolsonaro quem está fortalecendo a candidatura de Lula da Silva. (…)

Eis a grande obra de Bolsonaro.

O presidente está se esforçando com denodo para viabilizar a volta de Lula da Silva.

Depois de dois anos e meio de absoluta inércia administrativa, em que passou mais tempo em palanques e se divertindo em praias e passeios, enquanto gastava energia sabotando os esforços para combater a pandemia de covid-19, criando crises com o Judiciário, o Congresso e os militares e investindo no isolamento do Brasil no mundo, o presidente colhe os frutos de seu empenho em arruinar o País: para cada vez mais eleitores, o retorno de Lula é menos danoso do que a continuidade de Bolsonaro.

Se não bastasse a catástrofe administrativa, Bolsonaro, eleito com a tonitruante promessa de acabar com a corrupção deslavada da era lulopetista, acumula escândalos de fazer inveja à tigrada de antanho.

O presidente brada que não houve um único caso de corrupção em seu governo, mas um ministro sofreu busca e apreensão em inquérito sobre suposto favorecimento ao contrabando de madeira, outro foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de chefiar esquema de candidaturas laranjas e agora há fortes indícios de que o Ministério da Saúde foi tomado por saúvas interessadas em faturar com vacinas e cloroquina.

E aqui nem se fala de rachadinhas, uso de dinheiro público em campanha eleitoral fora de época e aparelhamento explícito da máquina do Estado para fins privados, marcas da nefasta era bolsonarista.

A tudo isso se soma a relação de vassalagem de Bolsonaro com o Centrão, que culminou com a farta distribuição de verbas do Orçamento longe dos controles democráticos – que, conforme concluiu o Tribunal de Contas da União, “não reflete os princípios constitucionais, as regras de transparência e a noção de accountability”. (…)

Não é à toa que, segundo a pesquisa do Ipec, Bolsonaro perde de Lula inclusive entre os evangélicos, apesar de todas as juras do presidente a essa parcela do eleitorado. Ante a razia bolsonarista, até o diabo parece charmoso.