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Arthur Lira quer indicar um nome para o Ministério da Saúde, que tem visibilidade, muitos cargos, verba abundante e suculentas oportunidades de negócios com o setor da medicina privada, tão voraz quanto inescrupuloso. Até onde o governo deve ceder?
Lula tem resistido, com razão, à pressão para substituir Nísia Trindade por algum parlamentar do baixo clero. Depois da tragédia dos últimos anos, com teto de gastos e governo Bolsonaro, recompor a saúde público tem que ser uma prioridade absoluta de seu governo.
Mas quais ministério são “cedíveis”? Onde Lula já colocou indicados do Centrão, tem colhido escândalos, incompetência e traições. Um exemplo é Juscelino Filho, que não só não tem compromisso com a agenda de democratização da mídia como usa verba pública para participar de leilões de equinos e deixa as rédeas do Ministério das Comunicações nas mãos do sogro. Ou Alexandre Silveira, que faz do Ministério das Minas e Energia um refúgio de bolsonaristas.
É difícil porque não há, nas reivindicações do Centrão, nenhuma questão de política governamental. Nem mesmo se trata da busca de espaço para fim de vantagem política. O objetivo é mesmo ganhar com negociatas.
A situação piora porque Lula não consegue sequer comprar apoio no atacado. Os partidos do Centrão são agregados de ocasião, sem unidade nem liderança. Como observou o jornalista Bruno Boghossian, na Folha de hoje, não tem como Lula negociar com o União Brasil, por exemplo. São pelo menos quatro alas diferentes que precisam ser contentadas.
E mais: com um governo frágil, ameaçado por uma extrema-direita agressiva, muitos parlamentares tendem a achar que é melhor vender seu apoio projeto a projeto, em vez de integrar um “base” mais ou menos estável.
Onde ceder? É difícil. Certamente não a área econômica, nem educação, saúde ou meio ambiente, nem direitos humanos (se bem que esse nem é cobiçado pelo Centrão), cidades, transportes… Talvez o Ministério do Turismo, que já está com Daniela do Waguinho, na corda-bamba por causa do imbróglio do União Brasil. Ou Pesca, nas mãos de um apagado deputado do PSD. Ainda assim, há implicações – do meio-ambiente aos direitos trabalhistas.
Se o jogo é pensado apenas entre Executivo e Congresso, o xadrez é complicado, impossível mesmo. Tem que incluir novas variáveis – a começar pela pressão popular.
Ou talvez Zé Dirceu estivesse certo. Comprar o apoio no Congresso com o pagamento de um mensalão sai mais barato e é menos danoso para o país.