Até quando os protestos do MPL serão ‘resolvidos’ na base das balas de borracha e das bombas?

Atualizado em 23 de janeiro de 2015 às 21:07

pm passe livre

 

Esther Solano Gallego, professora da Universidade Federal de São Paulo e coautora do livro “Mascarados:  a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc”, escreveu este texto especialmente para o DCM.

 

Ultimamente sinto vergonha e irritação.

Vergonha e irritação porque dois anos depois das manifestações de 2013, voltamos a erros idênticos, como um reprise patético e de péssimo gosto.

As mesmas explosões de violência nas ruas. A mesma fórmula, que longe de desgastada ou estéril, está com mais vigor e disposição que nunca: “coloquem a polícia na rua”. As mesmas figuras políticas escondidas, como ratos no esgoto, atrás dos policias. A mesma insensibilidade fedorenta dos senhores feudais.

Pergunto-me, já no desespero, como é possível que governador e prefeito acreditem que as manifestações pelo aumento da passagem são “problemas resolvíveis” na base da bala de borracha e bombas de gás. É obvio que de Alckmin não venha uma atitude comunicativa com os movimentos sociais. Não decepciona de quem nada espera. Infelizmente, o PT  está chegando a essa mesma posição indigna.

Pouco decepciona porque  já pouco se espera dele. Depois de escutar as últimas declarações de Haddad sobre o MPL, seus silêncios coniventes diante dos abusos policiais militares, chego à lamentável conclusão de que Alckmin e Haddad, PSDB e PT, convergem demais na sua atitude de desprezo e incompreensão perante a situação imposta pelas ruas.

Sabemos que o MPL não é um coletivo fácil de lidar. Talvez, eles também sejam reféns dessa intolerância que impede a interlocução, que nega ao outro o diálogo. Chegados a este ponto crítico, de negociações nulas e protestos contínuos com vítimas e feridos, espera-se do poder público uma mínima capacidade imaginativa de gestão, para além do monótono “coloquem a polícia na rua”.

Espera-se uma mínima capacidade resolutiva que não transforme, de novo, pelos séculos dos séculos, um problema social numa questão de polícia.

Somos uma sociedade que não aprende. Temos um poder que não aprende, que continua cometendo, obcecadamente, como um doente mental, os mesmos erros.

Como serão as próximas manifestações? Sem necessidade de cartomante, pouco me arrisco ao prever que teremos uma intensa presença policial, depredação, feridos, detidos e tomara que não, algo mais grave.

A violência será a conclusão.

As ordens virão do Governo do Estado. A cumplicidade, da Prefeitura.