Atenção, patrulha do índio: tudo é fantasia. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 11 de fevereiro de 2018 às 15:37
Deixa a moça

“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer nada senão em função de lei ou da patrulha pós-moderna em pleno carnaval”. Esse é o novíssimo artigo constitucional incluído pela galera do “índio não é fantasia.”

Acerca disto, uma observação preliminar: Índio é fantasia. Tudo é fantasia, desde que você queira usar como fantasia.

Há quem diga – e esse argumento é mais velho que o próprio carnaval – que usar cocar é um violento ato de racismo (que o diga Paolla Oliveira, massacrada do instagram por se atrever a brincar o carnaval com a cara pintada). Pergunte a um índio se ele está preocupado com a fantasia de Paolla Oliveira pro carnaval. Arrisco dizer que ele está mais preocupado com a (falta de) demarcação de terras indígenas e com os ataques genocidas do agronegócio, questões sobre as quais a militância de esquerda não faz nada, visto que está ocupada com a nobre função de fiscal de fantasias no carnaval.

Me façam uma garapa.

Tudo é sagrado pra alguém no mundo. Um indiano ficaria indignado com as fantasias de vaquinha que tenho visto aos montes. Alguns povos que consideram sagrada a maconha ficariam perplexos com as fantasias canábicas.

Diria Gregório, coberto de razão: tudo merece a mesma quantidade de respeito (e de falta de respeito).

Uma fantasia não pode ser depreciativa se não há intenção depreciativa. Ofensivo é todo mundo de tiara de unicórnio e saia de tule no carnaval – o resto é pseudorrevolta de quem ainda não encontrou o trio elétrico certo pra esquecer as problematizações chiques).

Esse ano, fuja da patrulha: vá pra a avenida fantasiado de textão.