Ateus tentam impedir gasto de R$ 80 mi em centro evangélico disfarçado de museu

Atualizado em 16 de setembro de 2020 às 22:11

Publicado originalmente no blog do autor

Por Paulo Lopes

Museu da Bíblia, coatoria de Oscar Niemeyer e Paulo Sérgio Niemeyer, funcionará como complexo cultural. Estrutura é “síntese da obra de Niemeyer”. Imagem: reprodução/Instituto Niemeyer

A Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) está tentando impedir que o Distrito Federal e parlamentares evangélicos autorizem o gasto de R$ 80 milhões, no mínimo, com a construção de um Museu da Bíblia, deixando, assim, de destinar esses recursos para demandas urgentes neste momento de pandemia e desemprego.

A associação deu entrada a uma ação civil pública intimando o governo do Distrito Federal a apresentar uma justificativa válida para a construção do museu, que, se concluído, funcionará como um centro de eventos evangélicos.
O museu terá espaço para cultos e cerimônias festivas, salas para palestras e cursos, locais para venda de obras de editoras evangélicas, lanchonetes, etc.
Convencido por um grupo de parlamentares evangélicos, o governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou uma Carta de Intenções e Compromisso para a construção do museu com base em um suposto projeto de Oscar Niemeyer, garantindo, para isso, a doação de um terreno de 10 mil metros quadrados.
O terreno fica dentro de uma área tombada para preservar a história do conjunto urbanístico-arquitetônico de Brasília. Por isso, a doação, se for confirmada e autorizada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), poderá ser questionada na Justiça.

Rolando Piccolo Figueiredo, estudioso do legado de Niemeyer, tem denunciado que o arquiteto nunca fez um projeto para a construção de um museu da Bíblia em Brasília, mas apenas um rascunho, com tantos outros que deixou.

Ele diz: “Mesmo se considerarmos a ampla gama de obras executadas pelo arquiteto a partir de desenhos escassos ou pouco detalhados, neste caso não é possível sequer dizer que existe um anteprojeto — as quatro pranchas de desenho são absolutamente insuficientes para garantir uma construção cuja autoria pudesse ser atribuída postumamente”.

Pode-se concluir, assim, pela avaliação de Figueiredo, que o rascunho de Niemeyer está sendo valorizado por motivos comerciais, políticos e religiosos, desprezando a laicidade de Estado.

Previsto para ser inaugurado em 2022, o museu seria administrado pela Sociedade Bíblica Brasileira, uma empresa evangélica.

A pedido do juiz Paulo Afonso Cavichioli Carmona, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, o procurador Ivan Machado Barbosa disse que não pode se manifestar sobre a ação civil pública da Atea porque só existem estudos iniciais para a construção do museu e que, para a doação do terreno, seria necessária uma lei.

Na ação, o advogado da Atea, Thales Bouchaton, argumenta que a construção do museu seria “uma afronta ao povo do Distrito Federal e ao povo brasileiro”, porque o que está em jogo são “interesses privados de segmentos religiosos que possuem influência no governo do Distrito Federal e no Congresso”.

Com informação da Atea, do Tribunal do DF, do Correio Braziliense e de outras fontes.