
Após a repercussão da foto de Jair Bolsonaro discursando em ato esvaziado no último domingo (16), em Copacabana, no Rio de Janeiro, com uma faixa “Sem Anistia” ao fundo, bolsonaristas partiram para a caça ao responsável. A postura se assemelha a uma deduragem no estilo Gestapo, com internautas e influenciadores da extrema-direita mobilizando seguidores para identificar e expor João Pedro Fagundes, o estudante de direito de 18 anos que pendurou a faixa.
Em entrevista ao DCM, João disse que quis mandar uma mensagem aos golpistas e seus apoiadores. “O povo brasileiro não esqueceu e não esquecerá a criminosa tentativa de usurpar o nosso bem maior: a democracia. Exigimos punição aos golpistas”, declarou.
O clima de linchamento virtual ganhou força depois que o pastor Silas Malafaia, um dos principais aliados de Bolsonaro, disparou contra a imprensa por destacar a imagem que viralizou. “O jornalismo cretino de O Globo! Uma faixa colocada na janela de um apartamento em Copacabana contra a anistia vale mais do que o ato a favor e toda a manifestação”, escreveu no X (antigo Twitter). O ataque inflamou bolsonaristas que já estavam incomodados com a simbologia da faixa e da derrota política que ela representava.
O JORNALISMO CRETINO DE OGLOBO !
Uma faixa colocada na janela de um apto em Copacabana contra a anistia , vale mais do que o ato a favor e toda a manifestação . É o que eles dizem em sua matéria . Jornalismo parcial , inescrupuloso, chapa branca e apoiador dos crimes de…— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) March 17, 2025
A influencer bolsonarista Juliana Gaioso Pontes, ex-candidata a vereadora de Campo Grande (MS) pelo PP, foi uma das que convocaram a patrulha digital contra João. Em um vídeo, insinuou que João Pedro não seria um “brasileiro comum” e que desejava o “mal ao próximo”. “É muito fácil pedir ‘Sem Anistia’, morando na Avenida Atlântica, num apartamento de frente para o mar. O difícil mesmo, é sermos nós, brasileiros comuns, que fomos às ruas lutar pela anistia de pessoas inocentes, presas políticas dentro do nosso país”, disse.
“Eu gostaria de saber se essa pessoa aqui é um artista da Globo, ou político, filhote de político, ou mesmo alguém que se beneficia com esse desgoverno, porque, realmente, eu não acho que uma pessoa que tem sangue brasileiro nas veias e que tem algum pingo de sentimento possa desejar tão mal ao próximo como essa pessoa aqui está desejando. Se alguém souber quem é essa pessoa maravilhosa aqui, manda no meu direct que eu vou adorar saber quem é essa pessoa que não merece o status e nem a oportunidade que a vida lhe deu. Muito obrigada e fiquem com Deus”.
A bolsonarista Karen Llyandra, que compartilhou o vídeo de Juliana, também engrossou o coro contra o jovem. “Se alguém souber quem foi essa pessoa, vamos viralizar (!!) para entender um pouquinho mais, do por quê a frase colocada nos vidros. Moradores desse prédio, onde estão para nos ajudar na elucidação deste caso!”, escreveu nas redes sociais, dando o tom de uma caçada virtual.
Se alguém souber quem foi essa pessoa, vamos viralizar (!!) para entender um pouquinho mais, do por quê a frase colocada nos vidros.
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Moradores desse prédio, onde estão para nos ajudar na elucidação deste caso! pic.twitter.com/g2MCPQapaU— Karly🇧🇷 (@karenllyandra) March 17, 2025
O bolsonarista Roger Moreira, vocalista do Ultraje a Rigor, também atacou o jovem. “O cretino mora de frente pra praia em Copacabana mas é comunista. Outro hipócrita”.
O cretino mora de frente pra praia em Copacabana mas é comunista. Outro hipócrita pic.twitter.com/qN1aht1sRf
— Roger Rocha Moreira (@roxmo) March 16, 2025
Os ataques de bolsonaristas contra democratas tornaram-se um fenômeno recorrente no Brasil. Um dos casos mais emblemáticos dessa violência política foi o assassinato de Marcelo Arruda, guarda municipal e dirigente do PT em Foz do Iguaçu (PR), morto a tiros em 9 de julho de 2022 pelo bolsonarista Jorge Guaranho, agente penitenciário federal.
Na ocasião, Marcelo comemorava seu aniversário de 50 anos com uma festa de temática petista, com bandeiras e imagens de Lula. Guaranho, ao saber da decoração, dirigiu-se ao local armado, gritando palavras de ordem bolsonaristas. Após um desentendimento inicial, saiu, mas voltou minutos depois e abriu fogo contra Marcelo, que, mesmo baleado, conseguiu reagir e feriu o agressor antes de morrer.
Condenado, Guaranho está preso numa penitenciária especial, destinada a quem necessita atendimento especial.