A atitude exemplar de Márcia Tiburi: deixemos os porcos chafurdarem sozinhos na lama. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 25 de janeiro de 2018 às 10:38

Ontem, depois da entrevista dos advogados de Lula em Porto Alegre, caminhava com Pedro Zambarda pela rua quando vi um homem aparentando 30 anos, com a camisa da CBF, vuvuzela em uma mão e bandeira do Brasil enrolada na outra. Ele andava de cabeça baixa, sozinho. Soube depois que, a algumas quadras dali, houve uma manifestação para comemorar a decisão do Tribunal Regional Federal da 4a. Região.

— Ah, tinha um pouquinho de gente. Manifestação grande foi lá na Praia Bela — disse o motorista do Uber, em referência ao ato daqueles que vieram defender a democracia e Lula na capital gaúcha.

Hoje, soube que a filósofa Márcia Tiburi, professora na Universidade Mackenzie, abandonou um programa de rádio quando viu que dividiria a bancada com Kim Kataguiri, líder do MBL, que no vídeo que viralizou na internet aparece com um sorriso amarelo enquanto ela, sem olhar para ele, se dirige ao apresentador:

— Gosto muito de ti (ela é gaúcha), mas você deveria ter me avisado. Tenho vergonha de estar aqui. Que Deus me livre, que as deusas me livrem. Não converso com pessoas indecentes, perigosas — disse, e deu as costas, enquanto alguém gravou tudo.

Os dois eventos dão a medida exata do Brasil que resultou de um processo institucionalmente violento que começou já há bastante tempo, mas ficou bem perceptível na crise do mensalão, mostrou sua face no golpe que derrubou Dilma Rousseff e teve o seu auge ontem, com a decisão do TRF-4.

O Brasil tem claramente dois lados — “acabou a ilusão, como disse o senador Lindbergh Farias”.

E é justamente por isso que a atitude de Márcia Tiburi foi exemplar. Há um limite para tudo.

Com fascistas, não se dialoga.

Ignorantes podem ser civilizados, como diria Will McAvoy, o âncora e editor do programa News Night, da série The Newsroom (muito boa, por sinal). Mas fascistas não. São convictos.

Dialogar para quê, se a arma deles não são as ideias? Dialogar para quê, se sabem que grande parte do aparato do Estado se move a seu favor, para sufocar as vozes que se levantaram por, ora bolas, essa coisa incômoda chamada justiça social?

Logo depois do impeachment, o professor Vladimir Safatle disse, em entrevista ao programa DCM/TVT, que com uma parte do Brasil — esta que usurpou a camisa da seleção — não formamos uma nação. Dividimos o mesmo território.

Quando se falar, não é para eles que se fala.

A sociedade precisa ouvir a voz daqueles que foram golpeados.

Mas não nos sentemos na mesma bancada que eles.

Deixemos que falem sozinhos.

Que chafurdem na lama.

Tenho certeza de que encontraremos muitos outros, sujos, vagando solitários pelas ruas das cidades, de cabeça baixa.

Cheios de ódio, incapazes de reconhecer que jogaram o Brasil no abismo.