O novo ataque racista ao ator JP Rufino e o mau exemplo do presidente Jair Bolsonaro

Atualizado em 3 de janeiro de 2020 às 22:00
JP Rufino. Foto: Reprodução do Instagram

O ator JP Rufino, de 17 anos, voltou a sofrer ataque racista na rede social.

Em fevereiro do ano passado, ele fez uma live em que dançava como destaque no desfile da Mangueira, e um internauta comentou:

“Eca, macaco sambando”.

A mãe de JP, Martha Christina, não teve dúvida. Foi à delegacia na companhia do filho e denunciou o racista.

Nesta sexta-feira, JP Rufino foi alvo outra vez de um ataque racista.

Um internauta, cujo nome decidiu preservar — certamente por orientação jurídica —, comentou abaixo de uma postagem sobre discriminação.

“Moleque babaca bancando a vítima! Vai estudar e tozar (sic) esse cabelo horrível! Para de falar de racismo seu trouxa. É assim que começa a mudança!”, disse.

Foi além e incluiu Marielle Franco no comentário, o que mostra a que “Mito” ele serve.

“Fodam-se: índios, pretos e pobres! Racistas principalmente!!! (como tu) e Marielle também”, vociferou.

JP Rufino não se intimidou:

“Falo sim…e mostro sim! Sabe pq? Pra lutar por uma mudança de seres sem noção! Pra tentar conter tanto ódio e agressão! Pra resgatar os valores…o RESPEITO ( que é bom, eu gosto e inclusive pratico).  Pra fazer entender que seres como vc…tem muito o que aprender!

PS: O “Moleque” em questão ESTUDA, Trabalha (tem carteira assinada), o que deveria ocupar seu tempo à fazer.”

Por fim, demonstrando muito maturidade para quem tem apenas 17 anos, disse que o ano novo será de muita luta:

“Segue 2020…que, pelo jeito que começou, me mostrando o qto precisará de luta.”

JP Rufino já ganhou dois prêmios como melhor ator mirim, e é um dos destaques na TV desde que “roubava” a cena na novela Além do Horizonte, da Globo.

JP Rufino não disse se tomará a mesma providência no ano passado, quando procurou a polícia, e o agressor tentou se safar com o argumento de que sua conta tinha sido hackeada.

Seria melhor que JP Rufino denunciasse esse outro racista à polícia.

Seria um ato de luta por justiça, neste ano que se inicia.

Como ele mesmo disse, 2020 será de muita batalha. Quem discorda?

Juntamente com a ignorância, o racismo deixou o armário no Brasil depois que Jair Bolsonaro começou a ocupar um espaço maior no cenário político.

Foi ele que deu a letra a racistas no país, ao publicamente se referir a quilombolas como animais que têm peso aferido em arrobas e têm como atividade a reprodução.

O racista que atacou JP Rufino também rebaixou a condição do ator a de um animal que é tosado, como um cachorro.

Claro que, neste caso, o que despertou a ira do internauta é o sucesso do jovem ator. É inveja, a incapacidade de suportar que um menino negro seja tão querido do público.

Já ocorreu com outras celebridades, e o melhor que elas podem fazer é não deixar os agressores impunes.

Os racistas precisam ir para a cadeia e indenizar suas vítimas.

No caso de Bolsonaro e sua ofensa aos negros, no entanto, nada aconteceu.

Às vésperas da eleição, com voto decisivo de Alexandre de Moraes, ele foi absolvido. Aliás, nem chegou a ser processado.

O ministro entendeu que, por ser parlamentar (na época, deputado), tinha direito à “liberdade de expressão qualificada”.

A denúncia do Ministério Público contra Bolsonaro foi por injúria racial, embora se tratasse de um caso de racismo, já que se dirigia a uma coletividade, não a uma pessoa específica, mas os procuradores preferiram o enquadramento mais leve.

Nem assim, o STF aceitou a denúncia.

Que essa decisão não iniba outras vítimas de procurarem a justiça em casos similares.

Se os racistas não aprenderam em casa como viver em sociedade, que sejam civilizados pela força da lei.

Eles têm um presidente em quem se espelhar, mas ainda há juízes no Brasil, apesar de algumas decisões equivocadas de ministros do STF.

Reprodução da rede social