“Atos covardes e odiosos”: ministro francês pede “pleno esclarecimento” do caso Marielle. Por Willy Delvalle

Atualizado em 8 de janeiro de 2020 às 16:45
Jean-Yves Le Drian. Foto: Wikimedia Commons

O Ministro das Relações Exteriores Francês Jean-Yves Le Drian pediu o pleno esclarecimento do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes.

“Nós apelamos para que este caso seja totalmente esclarecido numa investigação rigorosa e independente”, diz Le Drian em carta divulgada nesta quarta-feira pela senadora francesa Laurence Cohen.

“As autoridades brasileiras abriram uma investigação, que ainda não elucidou os responsáveis”, observa o chanceler.

“A França e seus parceiros europeus acompanham atentamente este caso no Brasil, razão pela qual os pais de Marielle Franco foram recebidos no último dia 26 de setembro no Ministério da Europa e das Relações Exteriores”.

A carta é uma resposta a uma interpelação da senadora Laurence Cohen, realizada no dia 8 de outubro do ano passado para que o governo francês se manifestasse publicamente sobre o caso.

“Seu assassinato e de seu chofer Anderson Gomes, no dia 14 de março de2018, constituem atos covardes e odiosos”, prossegue.

No documento, o diplomata francês considera que “Marielle Franco defendia com convicção os direitos humanos, e principalmente os das mulheres, das pessoas LGBT, pessoas de core moradores de bairros desfavorecidos da cidade do Rio de Janeiro”.

Ele afirma que “o combate às violências contra as mulheres e a defesa dos direitos humanos constituem prioridades da política externa francesa”.

Lembra que o “presidente da República (francesa) fez da igualdade entre as mulheres e os homens a grande causa de seu quinquênio, o que se traduz pela inscrição desse tema na ordem do dia no G7 em Biarritz”, em referência à cúpula realizada em agosto de 2019, na França.

Chefe das relações exteriores francesas, Le Drian foi destratado por Bolsonaro durante visita oficial ao Brasil em julho do ano passado.

Um encontro previsto entre ambos foi cancelado pelo presidente brasileiro por “falta de agenda”, quando na verdade minutos depois Jair Bolsonaro apareceu em uma live no Facebook, cortando os cabelos.

As relações entre Paris e Brasília se deterioraram depois que Bolsonaro atacou a primeira-dama francesa com ofensas pessoais.

Emmanuel Macron afirmou que Bolsonaro havia mentido sobre os compromissos ambientais assumidos pelo Brasil.

Uma onda de incêndios sem precedentes nos últimos anos tomou conta da Amazônia, provocando diversas reações internacionais.

O governo francês havia adotado discrição em relação a qualquer temática ligada ao Brasil desde então, tom que vem mudando progressivamente. Nas últimas semanas, fontes diplomáticas em Paris revelaram ao DCM o veto do governo brasileiro à participação do Brasil na formação de uma aliança internacional para a proteção de florestas.

Em setembro do ano passado, a cidade de Paris construiu um jardim em homenagem a Marielle, em ato que contou com a presença dos pais, da filha Luyara e de diferentes personalidades políticas francesas.

A manifestação desta vez da República Francesa sobre o caso Marielle é mais um ato de pressão internacional sobre a justiça brasileira, percebida como dependente de interesses políticos escusos.

Mais um vexame mundial para o Brasil.