Aumento do diesel: A punhalada de Bolsonaro nas costas de Guedes. Por Miguel Enriquez

Atualizado em 12 de abril de 2019 às 22:35
O presidente Jair Bolsonaro empossa o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante cerimônia de nomeação dos ministros de Estado, no Palácio do Planalto. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

POR MIGUEL ENRIQUEZ

É bom o ministro da Economia Paulo Guedes já ir se acostumando. Mais uma vez, o chamado Posto Ipiranga foi pego de calças curtas por seu chefe, o capitão-presidente Jair Bolsonaro. Não bastassem as declarações contraditórias de Bolsonaro sobre as concessões que poderiam ser feitas no projeto de Reforma da Previdência e episódios como a recueta na isenção do leite em pó americano, agora foi a vez da intervenção na política de preços da Petrobras.

Diante do aumento de 5,7% no litro do óleo diesel, Bolsonaro, atropelando o receituário ultra-liberal de Guedes, avesso a qualquer coisa que cheire a controle e represamento de preços, acabou determinando a suspensão da medida.

Contrariando todas as evidências, Bolsonaro, que participou nesta sexta feira da inauguração do aeroporto de Macapá, jurou não defender práticas intervencionistas nos preços da estatal. No entanto, confirmou que exigiu uma justificativa baseada em números, alegando que o aumento pretendido era superior à inflação projetada.

“Se me convencerem, tudo bem, se não me convencerem tudo bem. Não é resposta adequada para vocês, não sou economista, já falei. Quem entendia de economia afundou o Brasil, tá certo? Os entendidos afundaram o Brasil”, afirmou o presidente, que convocou uma reunião com a direção da Petrobras e com o ministério da Economia para o início da próxima semana.

Na ocasião, ele acabou revelando o verdadeiro motivo da desautorização da política de preços da estatal: o temor de que uma nova greve dos caminhoneiros, repita o caos criado na paralisação do ano passado, apoiada, por sinal, pelo próprio Bolsonaro.

“Estou preocupado com o transporte de cargas, com os caminhoneiros, são pessoas que fazem o transporte de cargas, de riquezas, Norte a Sul, Leste a Oeste e tem que ser tratado com o maior carinho e consideração. Nós queremos um reajuste, reajuste não, um preço justo para o óleo diesel.”

Essa espécie de punhalada nas costas pegou Paulo Guedes, assim como o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, em viagem para os Estados Unidos. Guedes estava em Washington, onde participou de uma reunião do Fundo Monetário Internacional (FM). Castello Branco embarcava para Chicago para participar de uma feira do setor petrolífero.

Indagado pelos jornalistas, Gudes mal disfarçou seu constrangimento e contrariedade com a inopinada ação de Bolsonaro. “Eu tenho um silêncio ensurdecedor para os senhores”, afirmou o ministro, depois de dizer que não sabia do que estavam falando.

Sem se deter para conversar com os profissionais da imprensa, acabou confirmando que não fora consultado pelo presidente sobre a oportunidade ou não da suspensão do aumento do diesel. “É uma inferência razoável, aparentemente”, disse.

O fato é que a nova travessura de Bolsonaro, não significa apenas mais um by pass no Posto Ipiranga, que vem gastando toda sua lábia para convencer os investidores internacionais de que o Brasil mudou e passou a cultuar o livre mercado.

Para a companhia e seus acionistas, a atuação destrambelhada de Bolsonaro custou nada menos de uma perda de mercado no valor de R$ 32 bilhões em valor de mercado. Sem contar, o efeito produzido no mercado de ações, com uma queda de quase 2% do índice Bovespa.

Outro que saiu mal na foto, com a repetição de uma prática que os liberais sempre condenaram nos governos do PT, foi o presidente da Petrobras, que antecipou sua volta ao Brasil, para participar da reunião convocada por Bolsonoro para a terça feira, 16.

Liberal de carteirinha, a exemplo de Guedes, Castello Branco tem se jactado de haver recebido uma total autonomia para a execução da política de preços da Petrobras, atrelada ao comportamento das cotações internacionais do petróleo.

Ex-integrante do Conselho de Administração da companhia no fim do governo Dilma Rousseff , Castello Branco é um feroz adversário da concessão de subsídios aos derivados de petróleo, incluído o diesel. “Não resolve nenhum problema”, afirmou no início deste ano, ao assumir a presidência. “Pelo contrário, acaba criando outros.”

Se ele e Guedes conseguirão demover Bolsonaro e convence-lo a reconsiderar sua decisão de cancelar o aumento do diesel, tendo como pano de fundo o espectro de uma nova greve nos transportes rodoviários, só o tempo dirá. Façam suas apostas, senhores.