Austrália não vai bloquear extradição de Assange após decisão da Justiça britânica

Atualizado em 22 de abril de 2022 às 9:16
Assange
Um apoiador de Julian Assange exibe um cartaz, fora do Tribunal de Westminster, em Londres, Grã-Bretanha, em 20 de abril de 2022. REUTERS – TOM NICHOLSON

Nesta quarta-feira (20), um tribunal britânico emitiu uma ordem formal para que Assange seja extraditado para os Estados Unidos e seja julgado pela divulgação de arquivos secretos sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão. O fundador do Wikileaks tem o direito de recorrer junto à Suprema Corte da Grã-Bretanha.

Depois de rejeitar “a permissão de recurso” solicitada pelos advogados do australiano em março, a Suprema Corte britânica determinou a transferência do caso para a ministra do Interior, Priti Patel, a quem coube a decisão de determinar a extradição. A Austrália afirmou que forneceria assistência consular ao seu cidadão detido.

Dezenas de pessoas protestaram diante do tribunal contra a possibilidade de extradição de Assange. A justiça dos Estados Unidos deseja julgar o australiano pela divulgação, a partir de 2010, de mais de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades diplomáticas e militares americanas, em particular no Iraque e Afeganistão.

Entre os documentos, estava um vídeo que mostrava civis, incluindo dois jornalistas da agência Reuters, mortos por tiros de um helicóptero de combate americano no Iraque, em julho de 2007. Acusado de espionagem, Assange pode ser condenado a 175 anos de prisão se for declarado culpado, em um caso que as organizações de defesa dos direitos humanos denunciam como um ataque à liberdade de imprensa.

AssangeSimpatizantes de Julian Assange protestaram diante do Tribunal Westminster Magistrates, em Londres, nesta quarta-feira (20).

Último recurso

A defesa de Julian Assange terá agora até o dia 18 de maio para apresentar suas alegações a Patel, na esperança de obter o último recurso. Os advogados também podem tentar uma nova apelação, levando em conta outros aspectos jurídicos do caso. O australiano, de 50 anos e que está na penitenciária londrina de Belmarsh, participou da audiência por videoconferência.

Assange está preso na penitenciária desde sua detenção, em abril de 2019, pela polícia britânica, na embaixada do Equador em Londres. O então presidente equatoriano, Lenín Moreno, retirou a proteção que o antecessor Rafael Correa havia concedido ao fundador do Wikileaks.

Assange violou as condições de sua liberdade condicional no Reino Unido e se refugiou na representação diplomática equatoriana em 2012, para evitar a extradição à Suécia por acusações de estupro, que depois prescreveram.

Ele negou as acusações e disse “que tudo não passava de uma estratégia para entregá-lo aos Estados Unidos”.

O governo americano afirma que o australiano não é jornalista, e sim um hacker, que colocou em perigo a vida de vários informantes ao publicar documentos completos, sem edição.

mulher de Assange
Stella Morris, mulher de Julian Assange, insistiu em maço que este “é um caso político.” © AFP / DANIEL LEAL

Caso político

A justiça americana também assegurou que ele receberia o atendimento clínico e psicológico necessário, mencionando a possibilidade de que tenha a permissão para cumprir a condenação na Austrália.

Para seus defensores, liderados por Stella Moris, a advogada sul-africana com quem teve dois filhos em segredo durante os anos que passou na embaixada equatoriana e com quem se casou em Belmarsh no mês passado, estas garantias não são confiáveis. “É preciso coragem política, mas isto é o que é necessário para preservar uma sociedade aberta que proteja os editores da perseguição estrangeira”, disse.

(Com informações da AFP)

Publicado originalmente no RFI