Autoridades médicas entram em pânico após Trump relacionar Tylenol ao autismo

Atualizado em 22 de setembro de 2025 às 23:29
Trump com RFK Jr. (esq.)

O governo de Donald Trump fez uma incursão irresponsável no terreno da ciência na segunda-feira (22), ao sugerir a limitação do uso de paracetamol, conhecido comercialmente como Tylenol, durante a gravidez, devido a uma possível ligação com o autismo, enquanto, ao mesmo tempo, promove o uso de leucovorina, um medicamento estudado como possível terapia para o autismo.

Essa postura vai contra as orientações das principais sociedades médicas, que afirmam não haver evidências definitivas para nenhuma das alegações.

Durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca, Trump afirmou: “Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom.” A administração emitiu um alerta de saúde recomendando que grávidas evitem o uso de acetaminofeno, a menos que seja estritamente necessário, especialmente no início da gestação.

Contudo, a declaração contradiz os pareceres de associações médicas, como o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, que consideram o medicamento seguro quando utilizado adequadamente.

Trump também abordou a leucovorina, um medicamento utilizado para tratar os efeitos colaterais de certos medicamentos contra o câncer, sugerindo-o como uma possível solução para o autismo. Embora estudos preliminares, envolvendo grupos pequenos de crianças, tenham mostrado alguma melhora nos sintomas de linguagem, a comunidade científica alerta que são necessários estudos maiores e mais controlados para confirmar qualquer benefício.

A administração indicou que a FDA (agência de alimentos e medicamentos dos EUA) avaliaria oficialmente a leucovorina como um tratamento potencial para o autismo.

Essas ações de Trump geraram críticas de médicos, cientistas e defensores do autismo. Muitos expressaram preocupação de que as orientações possam levar gestantes a evitar Tylenol, mesmo quando necessário para aliviar febres, ou levar pais a tentar leucovorina sem supervisão médica adequada, dada a falta de dados conclusivos sobre sua eficácia e riscos a longo prazo.

O que preocupa ainda mais é a aceleração desse processo, ignorando o método científico rigoroso que a pesquisa exige.

“É uma loucura”, disse Colin Killick, diretor executivo da Autistic Self Advocacy Network. “Eles estão manipulando fatos para criar a aparência de uma conexão, em vez de realizar uma ciência responsável.”

A presidente da Associação Psiquiátrica Americana, Theresa Miskimen Rivera, também se mostrou alarmada com a confusão gerada por essa mistura de informações, alertando para os riscos de aumentar a ansiedade do público com declarações precipitadas. Ela reiterou a importância de os indivíduos consultarem seus médicos antes de tomar qualquer medicamento, como faria com qualquer outro remédio.

A controvérsia se intensificou quando Trump, em seu discurso, alertou repetidamente as gestantes a não usarem Tylenol e a não darem o medicamento para recém-nascidos, apesar de reconhecer que estava indo além da recomendação dos conselheiros médicos e científicos.

Em um momento, ele chegou a afirmar, sem qualquer evidência concreta: “Há um boato – e eu não sei se é verdade ou não – de que em Cuba, onde não têm dinheiro para comprar Tylenol, quase não há autismo. Ok?”

Trump também afirmou que suas recomendações estavam baseadas em suas próprias percepções, mais fortes do que as conclusões dos especialistas, que ainda aguardam mais estudos. Inacreditável.

Além disso, ele fez outras declarações controversas sobre vacinas, sugerindo que os bebês não deveriam receber as vacinas contra hepatite B em conjunto, algo que vai contra as recomendações de profissionais de saúde.

A FDA, por sua vez, manteve uma postura mais cautelosa sobre a possível relação entre o paracetamol e o autismo, destacando que não há comprovação de causalidade, mas sugerindo que os clínicos considerem reduzir o uso de acetaminofeno durante a gravidez, quando possível.

Kenvue, fabricante do Tylenol, rebateu as alegações de Trump, afirmando que mais de uma década de estudos rigorosos, endossados por profissionais médicos e autoridades globais de saúde, não encontrou evidências de que o paracetamol cause autismo.

A iniciativa de Trump e Robert F. Kennedy Jr., secretário de saúde do governo, em relação ao autismo, reflete uma preocupação persistente com o aumento dos diagnósticos da condição nos EUA, mas também se baseia em alegações desacreditadas sobre a ligação entre autismo e vacinas.